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Críticas

A História da Eternidade

Os eternos conflitos da humanidade

Por Luiz Joaquim | 26.02.2015 (quinta-feira)

Com estreia apenas no Cinema da Fundação Joaquim Nabuco, Camilo Cavalcante lança hoje seu primeiro longa-metragem na cidade. “A História da Eternidade” (Brasil, 2014) é uma combinação do olhar cinematográfica aguçado que acompanha o cineasta antes dos anos 1990 – tempo em que estagiou do Museu da Imagem e do Som de Pernambuco – com o seu nativo interesse e paixão pela cultura do sertanejo.

Dessa união nasceu um filme que ainda consegue oferecer – mesmo para os mais incrédulos no tema em 2015 – uma história potente em sua capacidade de seduzir o espectador para um universo interiorano onde o tempo têm um ritmo próprio, e os valores são ainda arraigados em tradições centenárias.

Quando exibido pela primeira vez no Brasil – em julho do ano passado no 6º Festival de Paulínia (de onde saiu com o título de melhor filme), Camilo destacou que no sertão, “naquele lugar intocado, todas as relações são mais diretas”. Numa outra entrevista o diretor desdobrou o raciocínio dizendo que “A História da Eternidade” funciona como uma alegoria ao que significa ser humano, e que “existem vários sertões, mas este mais romanesco, como gosto de falar, guarda muita vida e é muito honesto. É um lugar que favorece paixões e amores com seu tempo dilatado. Essa atmosfera acaba por se confundir com o caráter dos personagens”.

E para criar personagens tão eloquentes em seus dramas, que tentam dar vazão à questões que perseguem a existência do homem pela eternidade, Camilo criou uma espécie de mosaico dramatúrgico separado por três capítulos: “Pé de galinha”; “Pé de cabra”; e “Pé de urubu”.

Neles vivem de forma interdependente a avó Das Dores (Zezita Matos), uma mulher madura, Querência (Marcélia Cartaxo) e uma adolescente, Alfonsina (Débora Ingrid). Nesta última, surge uma paixão pela poesia do tio (Irandhir Santos), o único sensível da região a entender seu sonho. Já com a avó nasce um desejo carnal pelo neto fugitivo (Maxwell Nascimento), enquanto que com Querência temos os receios e os desejos de uma mulher solitária por um homem cego que a corteja.

Há, no mínimo, dois momentos apoteóticos em “Eternidade”. Num deles, Irandhir Santos nos oferece um espetáculo ao som de “Fala”, do Secos e Molhados, noutro o mesmo ator faz a sobrinha “enxergar”, “ouvir” e “sentir” o mar na desértica paisagem do distrito de Santa Fé, a 60 quilômetros Petrolina.

Particularmente neste último episódio, Camilo usa sua inteligência cinematográfica para nos fazer, espectadores, assim como a adolescente no filme, acordar para a beleza do sertão quando unida à poética e as ferramentas da, digamos, hipnose que o cinema é capaz de proporcionar.

São opções que só funcionam com a maestria de combinações bem arranjadas. Isso passa necessariamente pelo roteiro, pelos atores, pela fotografia (aqui comovente, pelas mãos do premiado Beto Martins) e ainda pela trilha sonora, que traz contrastes necessários unindo o trabalho de Dominguinhos (1941-2013) e do polonês Zbigniew Preisner (o mesmo da Trilogia das Cores de Krzystof Kieslowski, 1941-1996).

DEBUT – Camilo Cavalcante mostrou “A História da Eternidade”, o longa, pela primeira vez ao mundo em janeiro de 2014, no Festival de Roterdã. Lá também conquistou os espectadores, o sucesso fez dele o 16º filme preferido pelo público numa lista de 199 títulos em votação. Camilo também é o diretor de um curta-metragem, rodado em 2003, com o mesmo nome: “A História da Eternidade”.

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