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Entrevistas

Entrevista: Benjamín Naishtat

O horror do medo invisível

Por Luiz Joaquim | 23.03.2015 (segunda-feira)

Em cartaz no Cinema da Fundação Joaquim Nabuco, “Bem Perto de Buenos Aires” (Historia del Miedo), do argentino Benjamín Naishtat, nos leva a um subúrbio afastado de Buenos Aires onde há um condomínio residencial fechado; espaço cujo conceito é bem particular da cultura latinoamericana. Lá um helicóptero voa sobre as propriedades privadas fazendo sua ronda de segurança enquanto a aparição de um buraco na cerca que protege o condomínio faz com que seus moradores começam a agir diferente, com um medo quase primitivo.

Exibido pela primeira vez no Festival de Berlim de 2014, o filme vem sendo sendo comparado com o pernambucano “O Som ao Redor”, de Kleber Mendonça Filho, pelo modo como registra a atmosfera incômoda do medo que precede a violência. Nesta entrevista exclusiva, Naishtat fala da opção pela tensão em seu filme, própria das obras de horror, da recepção da obra na Europa e de como vê o cinema brasileiro hoje. “Bem Perto de Buenos Aires” tem sessão marcada para as 18h40 desta terça-feira (24) na Fundaj.

ENTREVISTA: Benjamín Naishtat

Como surgiu a ideia para “Bem Perto de Buenos Aires”?
O filme é um projeto que esteve em desenvolvimento por quase quatro anos. Começou sendo um projeto muito narrativo sobre as tensões sociais em Buenos Aires, e com o tempo foi transformando-se num filme híbrido, que se alimentou muito do gênero, de filmes de horror, dos quais sou muito fã. Porque o medo do qual quero falar, o medo social, é vivido em Buenos Aires de uma forma similar a que se sente nos filmes de horror, dos fundamentos irracionais que geram o medo

O filme parece nos levar a um outro lugar, quase não identificado, onde há regras próprias e todas elas criadas em função do medo por algo que nem se sabe do que exatamente. Esta era uma de duas intenções?
Sim, porque antes de tudo o medo é uma experiência sensorial, que nem sempre tem um fundamento racional. Os sons, a escuridão, acionam o medo que vivemos nas grandes cidades da América Latina, e com “Bem Perto…” a intenção era gerar um transe sensorial, mesmo antes de contar uma história particular.

Conhece os filmes “O Som ao Redor”, de Kleber Mendonça Filho, do Brasil, e o mexicano “Zona do Crime” (2007), de Rodrigo Pla? Vê seu filme dialogando com eles? Ou os vê por uma ótica diferente?
Claro que sim. São filmes muitos distintos. Pessoalmente me sinto muito mais atraído por “O Som ao Redor”, uma vez que maneja a estrutura de forma muito livre, contemporânea e política de uma maneira que tão sutil como contundente. É um grande filme. “Zona do Crime” também é um filme valioso, dentro de um esquema clássico, e teve grande repercussão, tranzendo à luz o problemas dos condomínios particulares na América Latina.

Como foi a recepção em Berlim de seu filme? “Condomínio fechado” é um conceito que eles compreendem?
Foi um tanto curioso, de fato, os alemãs não estão muito familiarizados com certos conceitos que para a gente, latinoamericanos, são absolutamente conhecidos, como comunidades fechadas, ou tensões nas ruas, os cortes de energia elétrica no verão, o mundo sonoro dos subúrbios. Eles virão o filme, talvez, mais como um experimento formal. Em todo o caso, foi bastante emocionante participar da competição no Festival de Berlim porque estávamos concorrendo com grandes filmes como “Boyhood” e do diretor Alain Resnais. Um sonho que virou realidade.

Você trabalha num novo projeto sobre a sociedade civil envolvida na ditadura argentina dos anos 1970. Pode falar algo mais? Em que estágio está o projeto?
Estou desenvolvendo, há anos, um roteiro sobre como se vivia nos anos 1970 numa pequena cidade do interior da Argentina. O foco do projetor está na indiferença da sociedade civil a respeito ao que acontecia naquele tempo. Esperamos conseguir financiamento para o projeto e filmar no início de 2016.

O que conhece da atual produção brasileira? Identifica-se com algum cineasta?
Conheço bem os jovens cineastas brasileiros e acho que é atualmente a indústria mais pujante da America Latina, com possibilidades de crescimento enorme, dado o tamanho do mercado brasileiro. Dos filmes que vi ultimamente lembro bastante de “Casa Grande”, do meu amigo Felipe Barbosa.

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