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Reportagens

O Ateliê da Rua do Brum (produção)

Perseverança de um jovem artista

Por Luiz Joaquim | 09.03.2015 (segunda-feira)

Dê R$ 400 mil a um cineasta pernambucano e é provável que ela faça uma obra que ganhe o respeito do mundo e depois, claro, também o do Brasil. É um questão polêmica, porque a cifra, dentro dos padrões da produção de um longa-metragem, é ridiculamente pequena e a lógica desse valor não pode virar uma regra por parte de quem detém os recursos. Então como acontece o “milagre” de um grande filme sair de Pernambuco com valor tão pequeno?

Um destes “milagres” está em processo de gestação nesse momento. Chama-se “O Ateliê da Rua do Brum” (antes conhecido como “Vernissage), primeiro longa-metragem de Juliano Dornelles que recebeu o valor citado acima pelo Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura, o Funcultura, além de ter conseguido um outro aporte paralelo no valor de R$ 60 mil.

A resposta para tais “milagres” acontecerem parece estar mesmo na competência administrativa do produtores pernambucanos. No caso de “O Atêlie…” o nome por trás é o da produtora Emilie Lesclaux e o de Lívia de Melo, produtora executiva.

No principal curta-metragem que Juliano Dornelles assinou a direção em sua carreira – “Mens Sana in Corpore Sano” (2011) – um grande apuro de efeitos especiais foi um dos responsáveis por torná-lo numa daquelas obras inesquecíveis feitas aqui no Estado.
É de se esperar, portanto, que uma beleza cênica também seja um ponto alto compondo seu longa “O Ateliê…”.

Juliano conta que as sequências em que há um apelo mais refinado de produção visual foram mantidas, mesmo com o orçamento apertado. “Fizemos questão de priorizar este aspecto. As cenas que foram achatadas em função de nosso pouco dinheiro são aquelas que chamamos de -gordura- do roteiro. Ou seja, são ótimas cenas, e que dariam bons contrapontos na montagem, mas que não são essenciais para contar a história”, explicou o diretor. E assim vão nascendo os “milagres”.

ENREDO
Tendo iniciado suas gravações durante o mês de janeiro último, e tendo como locação principal um endereço na rua no Bairro do Recife que dá título ao filme, o assunto que Juliano Dornelles escolheu diz muito sobre sua formação, quando ali no início dos anos 2000 foi aluno de artes plásticas.

“Acabei acumulando muitas informações desse universo, de vivência com artistas, de Salões de Arte, de observações de como as pessoas do meio agiam e, juntou tudo isso com minha vontade de fazer filmes que coloquem os personagens sobre situações extremas”, revela.

Em “O Ateliê…”, o personagem a sofrer a tal situação extrema é uma artista plástico (vivido pelo ator mineiro Rogério Trindade). Num momento espécifico de sua vida, ele está prestes a lançar uma nova exposição, tendo sua ex-esposa (a atriz paulista Ondina Clais, com maiores referências no teatro) como uma galerista, que cuida de seus negócios. “Acontece que o artista anda tocando a vida numa espécie de -piloto automático- até acontecer algo que o faz rever o estado das coisas”, adianta Juliano.

Ainda no elenco, Jennyfer Caldas (de “Amor, Plástico e Barulho”) como uma jornalista, e Adriana Veraldi, como a modelo viva que serve de referência ao artista. “Quis trabalhar com rostos poucos conhecidos ou desconhecidos no cinema, na mesma sintonia desse meu primeiro longa. Mas todos são talentos incontestáveis”, garante o realizador.

“Rogério [Trindade] me chamou a atenção no curto -Beijo de Sal- [2006], de Fellipe Barbosa. Rogério tem um rosto e uma presença incrível. No set brincávamos chamando ele de nosso Gregory Peck e ele brincava de volta gritando -Remem marujos!-“, lembra o diretor, em menção a “Moby Dick” no qual, em 1956, John Huston dirigiu Peck como o Capitão Ahab. “Ficava me perguntando como é que Rogério ainda não tinha sido aproveitado em pelos menos uns 50 filmes”.

Compondo a equipe de Juliano na aventura “O Ateliê…” estão Leo Sette como diretor de fotografia. Milena Times na assistência de direção. Daniel Bandeiro como montador (tendo sido colaborador no roteiro), Diogo Balbino como diretor de arte e a figura essencial nessa história de pouco recursos financeiros, Thiago de Melo, como diretor de produção.

Juliano e Daniel Bandeira agora respiram um pouco e aguardam novos recursos para trabalhar na montagem do longa. A previsão de conclusão e lançamento do filme é 2016.

Produções artísticas do Estado aguarda repasse de recursos
Rodado no mês de janeiro último, o primeiro longa-metragem de Juliano Dornelles, “O Ateliê da Rua do Brum”, sofreu problemas bem particulares em sua produção. O projeto não recebeu a segunda parcela de recursos do Fundo Pernambucano de apoio à Cultura. No cronograma original, a segunda parcela deveria ter sido liberada durante as filmagens. A ausência dos recursos gerou contratempo e tensões na produção, que contou com uma equipe de 25 pessoas. O trabalho foi ainda mais limitado uma vez que precisou continuar a ser rodado sem os recursos financeiros previstos.

Assim como o projeto de Julianno Dornelles, outros passam pelo mesma situação. A “Escola Engenho”, que envolve a formação de crianças do bairro do Engenho do Meio, está se mantendo sem recursos. O longa-metragem “Permanência” tinha em sua programação o lançamento comercial em abril, mas sem os recursos a data deve ser adiada. Além do audiovisual, o problema afeta ainda outras áreas como artes cênicas artes plásticas.

Sabe-se que, todo final de ano, o governo faz um o balanço fiscal e, após este trabalho o sistema anula os empenhos com recursos que não foram direcionados a tempo aos seus destinatários. Isto vale tanto para segundas ou terceiras parcelas de projetos antigos quanto para novos projetos contemplados pelo Funcultura. Para renovar este empenho, e finalmente cumprir com a entrega dos recursos, é preciso recomeçar o processo do início. Tal situação parece apontar para a necessidade de um reajuste no cronograma.

O superintendente de gestão da Fundarpe, Gustavo Araújo, diz que é muito importante compreender que “não há crise alguma, financeira ou de qualquer ordem no Funcultura. Sempre que há mudança de exercício financeiro anualmente, há uma descontinuidade na execução do exercício seguinte, mas já temos programações financeiras de mais de R$ 3 milhões e na próxima semana deverão chegar a R$ 4 milhões. Essas programações se transformarão nos próximos dias em aportes financeiros para mais de 70 projetos, aprovados em editais de 2013 e de 2014”, adiantou.

Segundo o gestor, até o início do mês de maio, mais de 400 projetos estarão em execução e a relação com os produtores culturais sempre foram as melhores possíveis considerando a maneira equânime e igualitária em que as questões são tratadas no Funcultura. “Todos sabem que há um controle social muito forte e que os assuntos pertinentes ao Fundo são conduzidos de maneira deliberativa em comissão tripartite com 2/3 de representação dos artistas, produtores e instituições ligadas a produção cultural e sociedade civil”, diz.

Araújo conclui lembrando que sempre recebe produtores, seja através da Unidade de Atendimento, seja através do Gabinete da Superintendência de Gestão, e a relação construída com estes contatos permite a instituição aperfeiçoar rotinas e procedimentos internos.

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