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Críticas

Ponte Aérea

Retrato de uma geração

Por Luiz Joaquim | 26.03.2015 (quinta-feira)

E finalmente temos um tocante romance brasileiro feito para as massas, sem subestimá-las. Finalmente temos um casal (personagens e atores) com consistência humana, reconhecíveis, e não histriônicos. Finalmente temos uma história palpável, daquelas passíveis de acontecer a nós mesmo. Finalmente chega aos cinemas o bom “Ponte Aérea” (Bra., 2015), o segundo longa-metragem da carioca Júlia Rezende, 29 anos, após seu bobo sucesso anterior “Meu Passado me Condena” (2013).

Diferente da despretensiosa comédia romântica anterior, o roteiro criado por Júlia para “Ponte Aérea” baseou-se nas ideias do livro “Amor Liquido: Sobre a Fragilidade dos Laços Humanos”, do sociólogo Zygmunt Bauman. Tendo em mente as complexidades do mundo moderno, ela apresenta o forte, mas suscetível amor do carioca Bruno (Caio Blat, ótimo) e da paulista Letícia Colin (de “Bonitinha, Mas Ordinária”, 2008).

Ambos estão num vôo que desceria em São Paulo, mas foi parar em Minas Gerais por conta do mau tempo. Entediados no hotel oferecido pela companhia aérea, se conhecem e acabam dormindo juntos. Os imagináveis caminhos fáceis para o romance continuar dali – troca de telefone, contato por redes sociais virtuais – não acontecem.

Afinal, o iniciante pobre e desprendido artista plástico Bruno é muito diferente do “trator” Amanda, a jovem executiva de uma grande agência publicitária paulista que acaba de ser promovida a diretora de criação da empresa. A transa daquela noite, portanto, deveria manter-se apenas naquela noite, os dois sabiam.

Mas a curiosidade do carioca o leva até a agência da publicitária no dia seguinte, já em São Paulo, e o casal se dá mais uma chance no labirinto de compromissos que é a vida profissional de Amanda, e na reviravolta que a vida pessoal de Bruno sofre ao reencontrar o pai anos depois e prestes a morrer, ao mesmo tempo em que descobre ter um irmão pequeno.

“Ponte Aérea” acena assim para situações familiares de tantos casais que se atrapalham na celeridade da vida moderna e se atropelam na confusão das prioridades que impõem a si mesmos. Sem querer assumir seus reais sentimentos, a dupla tropeça, levanta, e tropeça de novo. Mas sempre aprendendo um pouco mais sobre si durante o processo.

O roteiro de Rezende (filha de Sérgio Rezende e da produtora Mariza Leão) é de uma elaboração nos detalhes que merece méritos. Se fosse só pelos diálogos críveis e maduros, já seria bom o suficiente para agradar, mas some-se a isto também uma acumulo pequenas situações amarradas em seus timings perfeitos que, ao final, parece que conhecemos Bruno e Amanda como quem conhecemos um amigo(a) próximo(a).

Dois momentos dizem com bastante eloqüência – sem usar diálogos – sobre a silenciosa intensidade de amor do casal. Num deles, Bruno passa frio no hospital em que o pai e tratado, até que Amanda vem e o aquece. Noutro, o ator Caio Blat, de costa para nós espectadores, começa a chorar intensamente e, mais uma vez Amanda vem e lhe dá o colo. E assim “Ponte Aérea” nos reforça que não precisamos de tanta tecnologia para dizermos uns aos outros algumas coisas essenciais.

COMBO – “Ponte Aérea” forma uma boa programação ao lado do ainda inédito e sério “Permanência”, de Leonardo Lacca, e da comédia leve “Malu de Bicicleta” (2011), de Flávio Tambellini. Em Lacca temos um fotógrafo pernambucano que vai expor em São Paulo e reencontra um grande amor. Em Tambellini, um empresário paulista se apaixona por uma carioca livre e leve.

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