Nick Cave: 20.000 dias na Terra
Um rock star em mutação
Por Luiz Joaquim | 09.04.2015 (quinta-feira)
O que esperar de um filme biográfico de uma estrela do rock? Nada tradicional, correto? Correto. Mas também nada tão inventivo e interessante quanto o que vemos em “Nick Cave: 20.000 dias na Terra” (20,000 Days on Earth, GB, 2014), de Iain Forsyth e Jane Pollard, em cartaz no Cinema da Fundação Joaquim Nabuco.
O filme inicia naquele que seria o despertar do musico em seu dia número 20.000 nessa Terra. Dia em que deixou de ser o que era e passou a ser algo distinto.
A ideia por trás desta transformação inicial que o tal dia especial sugere uma comunhão perfeito sobre a forma de pensar desse artista que entende a necessidade de se “transformar” como algo constante.
Cave nos conta no filme, num modo, digamos “civil”, ou seja, fora do palco como o conhecemos, que estar no palco é exatamente algo que persegue exatamente pelo poder que o espaço lhe transformar-se.
Da mesma forma como define, lindamente, a capacidade que há em musica ainda em construção, enquanto a compõe no estúdio, em transformar seu ouvinte. Ela ainda não estaria domada, nem pronta pra ser posta numa gaiola, como todas as outras. Este é o grande e raro momento que sempre persegue.
Com o filme dividindo esse dia 20.000 em dois momentos que ajudam a nós espectadores a conhecer melhor o personagem, temos Cave conversando com um terapeuta sobre sua infância feliz, sua relação com a cidade de Brighton (Ing.) e a influência de seu pai em sua vida
À tarde, temos o artista revisitando num arquivo de fotos, pelas quais pontua a mesma com o que lhe há na memória. Memória, alias cujo maior medo do músico é perdê-la um dia. Afinal, é dela que somos feitos, explica ele.
Entre uma situação e outra, algumas performances ao vivo ou conversas com integrantes atuais ou antigos da banda Bad Seed, como o Blixa Bargel, enquanto Nick dirige seu carro e mantém sua mania de manter o limpador do para-brisa sempre funcionando.
Desses momentos tão pessoais, apenas uma imagem dlicada do artista com seus filhos gêmeos, vendo “Scarface” (1983) pela tevê. Da esposa Susie apenas uma foto. A preferida do musico.
Mas há também um gravação em que Cave descreve o que sentiu quando a viu pela primeira vez. É uma declaração de amor que só mulheres de poetas do gabarito de Cave estão aptas a ouvir neste mundo, ajudada aqui visualmente pela mão certeira de Forsyth e Pollard.
O desafio ao final do filme é evitar querer mais e mais de Nick Cave e de sua arte.
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