19ª Cine-PE (2015) – Balanço
De volta aos trilhos
Por Luiz Joaquim | 12.05.2015 (terça-feira)
Concluído, sexta-feira passada, o 19ª Cine-PE: Festival do Audiovisual, ficaram alguns dados concretos, e outros mais subjetivos, que ajudam a entender o grau de, digamos, “evolução” da edição 2014 do mesmo evento, quando naquele ano amargou sua pior performance de público em sua história. E é exatamente este dado, o público, que se apresenta forte e massivo como o primeiro dado incontornável a ser levado em conta nesta versão 2015 do festival.
Não foi por menos que o diretor do festival, Alfredo Bertini, ao subir pela primeira vez ao palco do cine São Luiz na noite da premiação fez questão de agradecer com veemência a presença dos espectadores que lotavam o auditório e, assim se repetiu ao longo dos seis dias anteriores. Com um média aproximada de 800 pessoas por noite, este Cine-PE 19 atendeu por volta de 5.600 pessoas.
Mais do que uma fria conta matemática, o festival pode se considerar exitoso não apenas pela temperatura humana dentro do cinema, mas pela temperatura sócio-política que abrigou durante todos os dias. Com as palavras “ocupar, resistir” sendo repetidas por quase todos que assumiam o microfone do evento – e pela plateia também (remetendo-se às manifestações que tomaram o Recife durante o Cine-PE) -, o festival pode entender que é sim, compreendido pelos participantes como um palco de importante visibilidade, ou seja, sua credibilidade permanece sob atenção da mídia e de seus satélites.
ESTRUTURA
A mudança do Teatro Guararapes para o cine São Luiz mostrou-se, portanto, acertada. Não apenas voltou a tornar o festival acessível a um público mais popular como, naturalmente, encantou seus convidados que se deparavam pela primeira vez com a grandiosidade do palácio na rua da Aurora.
Numa contextualização bem simples, a arquitetura clássica do cinema São Luiz empresta valor ao que é projetado ali pelo simples fato de que estamos numa real sala de cinema, nos moldes em que esta cultura foi originalmente concebida.
Mas, do ponto de vista técnico, o Cine-PE ainda tem um longo caminho (ou curto, vai depender da produção) a trilhar. Sendo cinema fruto da imagem e do áudio, é de se esperar que estes dois aspectos sejam oferecidas em sua melhor possibilidade num evento com seu nome. Mesmo que espectadores leigos não atentem para esta necessidade, cineastas exibem seus filmes em festivais com tal expectativa.
Este ano, excluindo-se as projeções analógicas (na bitola 35mm, feito com equipamento do próprio do São Luiz), as exibições digitais – ainda que utilizando a tecnologia Digital Cinema Package (DCP) – mostravam-se quase sempre com baixíssimo contraste ou com saturação de cor excessiva. A recorrência sugere a possibilidade de ajustes a serem feitos não no material entregue pelos realizadores, mas no equipamento de projeção digital.
Quanto ao áudio, há uma histórica complexidade de calibragem no São Luiz, em função de sua acústica, mas nem por isso o ponto deve ser ser esquecido uma vez que filmes cujos diálogos são fundamentais podem ter sua recepção comprometida, como de fato aconteceu neste 2015.
PROGRAMAÇÃO
O curador do festival, Rodrigo Fonseca, conseguiu reunir títulos promissores realizados por nomes já de respeito (Fernando Coimbra, Sérgio Machado, Jefferson De, Pedro Costa) como de iniciantes e locais (Leonardo Lacca, Leo Falcão, Petrônio e Tiago Scorza). Algumas dessas promessas decepcionaram mas, de qualquer forma, o evento reuniu um elenco curioso de provocadores cinematográficos. Que o esforço agora seja para trazer produtos igualmente provocantes e que estimulam o pensamento crítico e revelador, como todo festival de cinema deve promover.
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