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19ª Cine-PE (2015) – dia 3
Ventura desce(ria) ao inferno
Por Luiz Joaquim | 04.05.2015 (segunda-feira)
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O disco rígido com o arquivo do filme português “Cavalo Dinheiro”, que seria exibido hoje (4) no 19ª Cine-PE chegou atrasado ao festival, por responsabilidade de seu remetente, e ainda apresentando seu arquivo digital corrompido, ou seja, sem poder ser lido pelo equipamento de projeção quando testado hoje (4). Mas, a produção do evento já anunciou na noite desta segunda-feira (4) que irá projetar “Cavalo Dinheiro” na quinta-feira (7) após a exibição do longa-metragem “O Amuleto”.
O texto abaixo foi publicado na Folha de Pernambuco hoje (4), cuja edição foi concluída na manhã de sexta-feira (1º de maio) quando a exibição do filme ainda era considerada pelo Cine-PE para exibir nesta segunda-feira (4).
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É sem dúvida um dos grande momentos do Cine-PE, este que está para acontecer hoje (4) com a exibição de “Cavalo Dinheiro” (Port., 2014) com a presença de seu diretor Pedro Costa, um dos cineasta portugueses mais respeitados no mundo.
O cinema de Costa costuma chamar a atenção para uma absoluta soberania e fidelidade da forma e da sintaxe da linguagem cinematográfica sobre um estreito fio que geralmente ilustra seu enredo. Não há espaço para diálogos chulos e nada de montagem alucinada, nem situações dramaticamente apelativas.
Costa apropria-se da imagem como um escultor cuja peça tem apenas duas dimensões. Num forte tom contemplativo e expressionista, a fotografia que aplica a seus filmes é, talvez, uma das poucas de hoje a explorar ao máximo e melhor a disposição de linhas geométricas num retângulo de imagens. Mas esta opção estética tem um preço. Com seus parcos diálogos, seu cinema geralmente não cativa o público médio.
Em 2006, Costa punha em destaque uma trilogia com “Juventude em Marcha”, quando destacava as transformações sociais e psicológicas pelas quais passam seu protagonista, o caboverdense Ventura (interpretado pelo próprio), e seus filhos, no bairro Fontainhas, onde predominam os “degradados” (favelas) de Lisboa.
Hoje, com “Cavalo Dinheiro” – que esteve no Festival de Locarno em 2014, e lá impressionou, mas dividiu a opinião da crítica -, o diretor volta a Ventura que, desta vez, aparece envelhecido, doente, funcionando quase como uma espécie de Orfeu indo ao inferno em busca da sua Eurídice, ou melhor, Zulmira, sua esposa desaparecida.
CURTAS – A programação de hoje inicia também às 19h no Cine São Luiz, sendo aberta pela competição de curtas pernambucanos, no caso “A Gaivota”, animação de Raoni Assis. Na competição de curtas nacionais aparecem o mineiro “Palace Hotel”, de Cao Guimarães; e o paulista “Vestibular”, de Toti Loureiro e Ruy Prado.
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