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19ª Cine-PE (2015) – O Amuleto
Os outros -medos- de Jeferson De
Por Luiz Joaquim | 07.05.2015 (quinta-feira)
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A conversa por telefone de São Paulo com Jeferson De, diretor de “O Amuleto” – suspense de ficção que exibe hoje na competitiva do 19ª Cine-PE: Festival do Audiovisual – era para falar, evidentemente, sobre este novo desafio do cineasta que, ao contrário de sua habitual linha de criação cinematográfica – preocupada com questões sociais, entre elas o racismo -, enverada agora, despudoradamente, para o cinema de gênero, o suspense. Mas, sem conseguir segurar a curiosidade, o primeiro ponto da entrevista com Jeferson foi guiada por ele, querendo conhecer, pelo repórter mesmo, a história do cine São Luiz. Espaço que vem lhe encantando apenas pelas fotos que ela toma conhecimento a partir da cobertura da imprensa sobre o festival.
“Vi que até o John Madden [diretor de -Hotel Marigold-] elogiou o espaço!. Assim que chegar ao Recife vou logo ao São Luiz para fazer o teste de projeção do filme, mas também para matar essa ansiedade de conhecer um espaço como este, que deveríamos ter em cada cidade do País”, fez questão de registrar.
Já sobre “O Amuleto”, que terá a primeiríssima exibição publica no Brasil, o enredo nos coloca ao lado de Diana (Bruna Linzmeyer) e mais três amigos que vão a uma festa no meio de uma floresta. No caminho eles discutem e se perdem na mata. Na manhã seguinte, Diana não lembra o que aconteceu, e dois corpos são encontrados enquanto os policiais descobrem imagens gravadas nos celulares dos jovens que podem ajudar na investigação.
Antes titulado como “Celulares”, Jeferson conta que entendeu que, com o filme pronto, ele abarcava um universo maior que o do proposto inicialmente pelo projeto, daí mudar o título para “O Amuleto”. “Eu tenho uma teoria de que smartphones dizem muito mais sobre uma pessoa que sua própria carteira de identidade. No celular sabemos que música você gosta, com quem namora, com quem esteve, isto principalmente entre os jovens. O título anterior poderia confundir, remeter a uma ideia de tecnologia, quando na verdade temos aqui o contrário, ou seja, a ausência da tecnologia num ambiente selvagem. Além disso, há relações femininas fortes aqui, como a vivida entre Diana e sua mãe [interpretado pela atriz Maria Fernanda Cândido, presente hoje no São Luiz]”, explica.
Sobre apresentar um filme de suspense, longe do que habitualmente esperamos vir do diretor, Jeferson conta que é exatamente este o ponto. “Queria sair de um lugar seguro, mesmo sendo questões afro-brasileiras constantemente caras a mim, gosto da possibilidade de surpreender com o filme seguinte. Não sou mais adolescente, mas eu queria testar limites. E no caso do cinema brasileiro, precisamos ir além dos limites do drama social e da comédia”, vaticina.
Ainda por essa lógica, o cineasta faz questão de lembrar que filmes que surgem via edital do Baixo Orçamento, do Governo Federal – como o é “O Amuleto” – devem ser ousados. “Me deixei impregnar por isso, assim como os parceiros, como a Samsung, que desenvolve a difusão do filme para outras plataformas de consumo, já tão íntimas dos jovens”, adianta.
“Criando o suspense pude investigar aspectos narrativos que são próprios do gênero. Fizemos experimentos com [a distribuição de som] Dolby 5.1 de modo que todos na sala de cinema possam sentir que estão dentro da floresta. Além disso, a possibilidade de passar a narrar a partir do som é fascinante. O som de um tiro na favela, tem de soar como o som de uma tiro na favela. Mas, como fazer soar o som de um fantasma?”, provoca, rindo, Jeferson. “Passei 18 dias filmando e três meses trabalhando e potencializando as imagens feitas. Todos os frames do filme foram modificados”, revela.
Sobre o convite para Bruna Linzmeyer protagonizar o filme, Jeferson conta que a tinha visto contracenando como par romântico de Lázaro Ramos e ficou impressionado. No caso da Maria Fernanda Cândido, destacou que ela fez pouco cinema e que as duas atrizes podia funcionar bem em seus personagens. “Foi o que aconteceu. Às vezes eu nem precisava intervir no processo. No caso da Maria Cândido, temos uma câmera muito próxima de seu rosto, mostrando uma mulher madura. Quanto a Bruna, me animava ter uma atriz no início de carreira e este será um ano rica para ela no cinema, com filme dirigidos por Selton Mello, Neville D Almeida e Cacá Diegues, com seu -Grande Circo Místico-“, adiantou. “O Amuleto” tem estreia nos circuitos comerciais dia 28 de maio.
CURTAS-METRAGENS – Antes de “O Amuleto”, o público do São Luiz verá o curta pernambucano “História Natural”, de Júlio Cavani; o a ficção paulista “Como São Crueis os Pássaros da Alvorada”, dirigida pelo mineiro João Toledo; além de “Simulacro”, do carioca Miguel Moura.
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