O cineasta pernambucano Petrônio (antes conhecido como Petrônio Lorena) lembra da infância lá no Sertão do Pajú pernambucano quando sempre lhe chamava a atenção, de forma curiosa, uma figura que costumava caminhar bastante apressada pelas ruas de Serra Talhada – município a 412 quilômetro do Recife. Não poderia imaginar o menino Petrônio de então que, anos depois, aquela mesma figura descabela, grisalha e usando roupas folgadas maior que seu número original seria o protagonista de “O Gigantesco Imã”, longa-metragem que Petrônio co-assina a direção com Tiago Scorza e hoje ganha exibição na competitiva do 19ª CIne-PE: Festival do Audiovisual.

A tal figura, Evangelista Ignácio de Oliveira, já foi, na verdade objeto de observação num outro trabalho da dupla Petrônio e Scorza. Trata-se do premiado curta-metragem “O Som da Luz do Trovão”, que circulou por vários festivais a partir de 2005. “Depois do curta, sentimos que faltava uma abordagem mais personalizada sobre Evangelista. Quem é essa pessoa? De onde vem?”, recorda Petrônio.

“Nós tínhamos muito material filmado de 2003 e 2004 que não entrou no curta. Após -O Som da Luz…- fazer todo seu circuito de festivais, resolvemos voltar a Evangelista e gravamos e filmamos de 2009 até 2013”, registra. A etimologia dos verbos -gravar- e -filmar- aqui é importante porque, até pela função da produção ser composta por imagens captadas ao longo de 12 anos, “O Gigantesco Imã” acabou sendo composto por imagens captadas em 35mm, 16mm, Super-8, mini-DV e HD. “Incluímos ainda imagens de 1999, feitas em VHS pelo próprio Evangelista”, destaca.

“Interessante observar que essa diversidade de composições, de texturas, nestes diversos formatos captados combina exatamente com a diversidade criativa de Evangelista”, relaciona Petrônio. Inventor de diversos objetos, a sinopse do documentário lembra que “fios, bobinas, pólvora, máquinas de voar e outras armações” são as ferramentos que dão asas para as invenções do protagonista, que criou a câmera 35mm que captou as imagens de seu próprio filme.

Petrônio conta também que o espírito do filme é o da total independência. Tudo foi feito captado sem nenhum recurso. Conseguimos apoio apenas para a finalização. Tal espírito transparece nos aspectos técnicos do filme, contando com o trio Petrônio e Scorza com Marcos Carvalho no roteiro e na fotografia, e com “Petrônio e As Criaturas” assinando a trilha sonora, e incluindo também uma animação dos amigos Lourival Cuqinha e Daniela Brilhante.

COMPETIÇÃO – Antes da exibição de “O Gigantesco Imã”, o Cine-PE projeta os curtas pernambucanos “Brócolis”, de Valentina Homem; e “Bajado”, de Marcelo Pinheiro. Após o filme de Petrônio e Tiago Scorza é a vez da exibição do longa-metragem de Leo Lacca, “Permanência”, com Irandhir Santos e Rita Carelli, já visto no Festival Janela em 2014, e entrando em cartaz próximo dia 29.