
19º Cine-PE (2015) – Mães do Pina
Documentário abre mostra competitiva do festival
Por Luiz Joaquim | 01.05.2015 (sexta-feira)

Ele esteve no Cine-PE: Festival do Audiovisual em 2008 (era a 12ª edição) com seu primeiro longa-metragem – “Guia Prático Histórico e Sentimental da Cidade do Recife” -, além de outros curtas premiados: “Lugar Comum” (2002) e “TheLastNote.com” (2004). Amanhã Leo Falcão volta ao novo palco do Cine-PE, o cinema São Luiz, promovendo a primeiríssima exibição pública de seu terceiro longa, e também terceiro documentário, “Mães do Pina”, dentro da mostra competitiva desta 19ª edição do festival.
Programado para exibir logo após a principal atração da noite – a première do estrangeiro “O Exótico Hotel Marigold 2”, de John Madden -, “Mães do Pina” vêm acompanhando Falcão há quatro anos. “A ideia surgiu de um convite feito por Mariana Bianchi, envolvida em um dos terreiros de candomblé das cinco protagonistas e que percebia estas mulheres envelhecendo com suas histórias fortes sem serem registradas”, recorda o diretor. “Mariana viu o -Guia Prático…- e gostou do tratamento respeitoso que demos ao aspecto religioso no filme. Daí nos convidou”.
“Mãe do Pina” debruça-se sobre cinco mulheres – Mãe Maria de Quixaba; Mãe Elda, do Maracatu Porto Rico; Mãe Enesia; Mãe Laura; e Mãe Maria Helena – todas próximo aos 80 anos de idade e atuando como líderes das manifestações culturais e religiosas no bairro do Pina, na comunidade do Bode na zona sul do Recife.
A ideia do doc é investigar a formação e o efeito deste universo feminino em suas relações sociais, preservando a memória, reconstruindo suas trajetórias pessoais e fortalecendo a história do candomblé com suas novas gerações, sob o cuidado maternal dessas mulheres.
“Tivemos total liberdade de criação aqui e, inclusive, a nossa pesquisa para o roteiro desenvolveu-se melhor a partir do contato que tivemos na comunidade. Foi certamente o trabalho mais etnográfico que fiz e, para me acompanhar, chamei Beto Martins [fotógrafo de “A História da Eternidade”], que é uma pessoa com que me entendo bem no sentido da discrição, de ficarmos quietos, esperando que ação se desenrole. Foi uma escolha acertada, considerando que este é o primeiro longa-metragem da [produtora] Urso Filmes, apesar dela já ter um currículo vasto em outras produções”, pontua.
Leo lembra que o ritmo da produção ganho mais força em 2013, com o impulso do recurso do Fundo Pernambucano de Incentivo a Cultura (Funcultura). “Originalmente o projeto seria um curta. Quando decidimos ampliá-lo, marcamos dez diárias para captar imagens das quais reservamos algumas para eventos especiais, como alguns rituais e manifestações religiosos que podem durar até 8 horas, e outras de percussão, como o -Baque Mulher-“, recorda.
O cineasta destaca também a força de como todo aqueles eventos comunicam sobre um contexto social que é pobre, mas com um caráter de resistência que impressiona. “Eu, tendo um passado católico, me vi numa situação curiosa ali e cada vez mais percebia como estes temas precisam ser discutidos, principalmente nesse momento que temos bancadas conservadoras no Congresso Nacional, escanteando o debate sobre as manifestações de raiz africana”, diz.
E continua: “Tudo fica emblematizado neste conflito que tem a ver com raça e religião. Acaba que vivenciamos uma regressão social quando lembramos que temos uma dívida com essa cultura mas, ao por o dedo na ferida, alguns dizem que não há racismo no Brasil”, pontua o cineasta, que também faz questão de registrar: “O fato de tudo o que é mostrado no filme estar acontecendo no Pina acaba chamando a atenção para o aspecto da urbanização desenfreada. Não é o ponto principal do filme, mas está lá porque impacta profundamente aquela comunidade”.
Leo lembra que, durante as filmagens, a Via Mangue estava em construção e ele lembra de ter passado pela obra da vida assim como a do gigantesco complexo comercial “RioMar”. “O Pina é um bairro muito visado pelas construtoras e essa discussão também aparece no filme como pano de fundo”, concluiu.
FILMOGRAFIA – O segundo longa-metragem Leo Falcão, “Língua Mãe”, foi co-assinado com Fernando Weller. O projeto acompanhou crianças entre 7 e 10 anos de idade do Brasil, de Portugal e de Angola se relacionando através da música.
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