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Festivais

9ª Cine-PE (2015) – dia 2

O Vendedor de Passados

Por Luiz Joaquim | 03.05.2015 (domingo)

Segunda noite do 19ª Cine-PE: Festival do Audiovisual, e ele já oferece a presença de pelo menos uma estrela do cinema brasileiro – Lázaro Ramos – e outras (apenas na tela) mais vinculadas à tevê, como Alinne Moraes e Odilon Wagner. Ramos e Moraes protagonizam “O Vendedor de Passados”, longa-metragem de ficção do carioca Lula Buarque de Hollanda (do doc. “O Mistério do Samba”, co-assinado com Carolina Jabor) hoje na mostra competitiva do festival.

Adaptado do livro homônimo do escritor angolano José Eduardo Agualusa, o filme persegue os passos de Vicente (Lázaro) que ganha a vida vendendo passados para clientes que desejam modificar sua história. “O que me encantou no livro de Agualusa é essa capacidade do personagem reinventar-se. A história de um cara que cria o passado dos outros”, explicou Buarque por telefone, do Rio de Janeiro.

Considerando que o contexto do livro está muito vinculada aos efeitos brutais da Guerra Civil que arrasou Angola entre 1975 e 2002, Buarque uniu-se a roteirista Isabel Muniz para fazer a adequação à cultura brasileira. “Após a Guerra, Angola se reestruturou, mas foi a burguesia que se estabeleceu, e as pessoas comuns ainda sofriam a violência dos resquícios dos conflitos”, explica o cineasta.

“Podemos ter um -vendedor de passado- em qualquer cultura, daí propus ao autor trazê-lo para o Brasil. Criamos então um jovem de 30 e poucos anos no Rio de Janeiro que criaria um novo passado para seus clientes. Pensamos qual seria a necessidade das pessoas no Brasil e vimos que o País é o campeão em cirurgia plástica. Isso contou quando trabalhamos na adaptação”

Antes de “O Vendedor…”, Lula Buarque já havia enveredado na direção de um longa de ficção – “Casseta & Planeta: A Taça do Mundo É Nossa” (2003) – e, explica o diretor, demorou para voltar a dramatização porque procurava um bom roteiro.

“Quando comecei a pensar no elenco, o primeiro nome que pensei foi o de Lázaro [Ramos]. Ele me perguntou, -por que um ator negro-? Lhe respondi que minha história se situava num Brasil onde a questão do racismo estava superada. Que esta não era uma questão a ser colocada. Ele se envolve muito nos projetos que participa. Preocupa-se com a ideia do negro estereotipado. Com essa pegada contemporânea, o filme também pergunta o que significa se apaixonar nos dias de hoje. Essa é uma outra camada que está lá na história”, adianta.

Sobre Alinne Moraes, Buarque destaca sua participação em “O Homem do Futuro” (2011), de Cláudio Torres, e conta como sua atuação nos ensaios, que duraram um mês, foram fundamentais para repensar alguns diálogos, assim como a participação de Odilon Wagner.

Lula Buarque não é um total desconhecido do Cine-PE. Esteve por aqui em 1998, por ocasião de seu documentário “Pierre Fatumbi Verger: Mensageiro entre Dois Mundos”, e esteve também como produtor de “Viva São João!”, do colega Andrucha Waddington, em 2002, mas não pode vir recentemente quando produziu “À Beira da Estrada” (2012), de Breno Silveira. Lula, entretanto, não conhece o São Luiz e está curioso não só pelo espaço, mas pelo público que irá ao palácio da rua da Aurora.

NOS CINEMAS – “O Vendedor de Passado” deve estrear em todo o Brasil dia 21 de maio, com uma distribuição generosa da Imagem Filmes

HOMENAGENS – O Cine-PE prepara para hoje uma póstuma homenagem especial à obra de Ariano Suassuna (1927-2014)e ao governador de Pernambuco, Eduardo Campos (1965-2014).

CURTAS – A noite começa às 19h com a exibição dos curtas pernambucanos “Xirê”, de Marcelo Pinheiro, e “Salu e o Cavalo Marinho”, de Cecília da Fonte, seguido pelo carioca “Alegria”, de Hsu Chien Hchin.

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