Entrevista: John Madden
An englishman in Recife
Por Luiz Joaquim | 10.05.2015 (domingo)
Não é sempre que Recife recebe cineastas estrangeiros respeitados que transitam com certa facilidade pela indústria mundial do cinema. Responsável pelo filme de abertura do 19º Cine-PE: Festival do Audiovisual – “O Exótico Hotel Marigold 2” – o diretor britânico John Madden veio ao Recife para a sessão inaugural do evento e participou de entrevista coletiva com a imprensa no último domingo.
Entusiasmado para conhecer a capital pernambucana, Madden, 66 anos, surpreendeu a todos já quando chegou à cidade. Vindo de um voo que passou por Frankfurt (Ale.), São Paulo e daí pousou no Recife, Madden não quis saber de descanso. Largou a bagagem no hotel e saiu logo pelas ruas da cidade.
O realizador disse que já tinha vindo ao Brasil em 2002, no caso ao Rio de Janeiro. “Participei de uma oficina de cinema no Festival do Rio. Sempre quis voltar depois. Tenho até um filho que viveu oito meses em Fortaleza. Veio fazer um trabalho voluntário e aprendeu a falar português de uma forma que me impressionou. Mas ele nunca deixou eu vir a Fortaleza, coisa própria daquela fase em que os filhos querem ficar longe dos pais”, revelou rindo.
Sob provocação do mediador e curador do Cine-PE, o crítico Rodrigo Fonseca, Madden sorriu ao ser lembrado que a atriz Gwyneth Paltrow “tirou” de Fernanda Montenegro o Oscar por “Central do Brasil” (1998); ocasião em que a atriz norte-americana levou o prêmio por “Shakespeare Apaixonado” (1998). “Desculpem, não tive culpa”, brincou, “Sabemos como a Fernanda é maravilhosa”.
SEQUÊNCIA
Para a realização “Marigold 2”, o cineasta disse que não pensava num grande filme mas sim intimista. “Mas, à medida que chegava o novo no elenco, fomos crescendo. O grupo anterior dos atores se conhecia bem e a experiência deles deixou a produção muito forte. São atores maduros e o sucesso do primeiro filme talvez se deva ao fato dele não retratar como se espera as pessoas daquela geração”, disse, tentando explicar o êxito do filme original de 2011, cujos personagens foram escritos pensando nos atores, e que rendeu cerca de 130 mil dólares, quando custou apenas 10 milhões.
Sobre a presença de Richard Gere, Madden explicou que todo segundo filme requer uma grande estrela norte-americana. “Quando escrevemos o seu personagem, não sabíamos de sua agenda. O que tínhamos é que o personagem seria carismático e atraente. Já conhecia Gere, e havia falado com ele para outros projetos que não aconteceram. Ele tinha interesse pelo -Marigold 2- porque tinha gostado do filme 1”, disse.
Numa mistura de drama melancólico sobre os desafios na terceira idade, mas bastante pautado pelo humor, “Marigold 2” não esconde também o fascínio pela cultura indiana, onde tudo transcorre. “Eu diria que só se entende a diversidade da cultura mundial quando se vai a Índia. Mas as produções bollywoodianas [musicais com números de dança, feitos em abundância na Índia] não são populares na Inglaterra. É uma estética muito operística que é pouco familiar para nós”.
Quanto a um dos momentos chaves de “Marigold 2”, quando a personagem comicamente rabugenta de Maggie Smith sai do médico indicando problemas com a saúde, Madden explicou que pode ser entendido sim como uma despedida da atriz a franquia, no caso de acontecer um terceiro “Marigold” mais na frente.
Perguntando sobre suas impressões a respeito do atual cinema brasileiro, o cineasta pediu desculpas por não ser um conhecedor do assunto, mas disse lembrar bastante de Walter Salles e “Central do Brasil”, por ocasião do Oscar; de Fernando Meirelles, pelo enorme sucesso de “Cidade de Deus” na Inglaterra, além do cinema de Hector Babenco.
SÃO LUIZ – Interessado pela arquitetura das Igrejas do Recife e Olinda, John Madden ressaltou em particular a beleza do cinema São Luiz. “É um dos cinemas mais bonitos que já vi. E é muito importante que ainda existam salas como esta no mundo. Salas assim mantém o real espirito do cinema vivo. Me senti premiado por ter o filme sendo exibido em 35mm. Isso quase não mais existe. Foi uma grande oportunidade”, celebrou.
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