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Críticas

Últimas Conversas

Obra encerra o ciclo de buscas de Eduardo Coutinho

Por Luiz Joaquim | 14.05.2015 (quinta-feira)

“Como é que ele consegue isso?” Esta é uma questão que vem à mente, como um mistério indecifrável, sempre que estamos vendo pela primeira vez um novo filme de Eduardo Coutinho (1933-2014).

Para aqueles poucos que acompanharam toda a trajetória do mais venerado e respeitado documentarista que este País conheceu até o momento, com “Últimas Conversas” (Bra., 2015) – em cartaz hoje no Cinema da Fundação Joaquim Nabuco – terão infelizmente a derradeira oportunidade de ver um novo filme de Coutinho.

Não apenas de Coutinho mas, como anuncia os créditos do filme, editado por Jordana Berg (que foi sua montadora desde “Santo Forte”, 1999), e terminado por João Moreira Salles (produtor que o ‘adotou’ a partir de ‘Edifício Master’, 2002).

A co-autoria explica-se pelo triste fato de que após o assassinato de Coutinho pelo próprio filho em 3 de fevereiro do ano passado, a produtora VideoFilmes tinha nas mãos 32 horas de material bruto captado por Coutinho entrevistando jovens sobre suas perspectivas da vida. Além disso, apenas algumas poucas anotações do diretor sobre o que ele achava ser interessante daquele material.

De maneira que, o que há de concreto impresso no filme (com imagens feitas pelos habituais Jacques Cheuiche e Valério Ferro no som) é aquele “isso” que só Coutinho consegue; sendo a forma como o tal “isso” é narrado, aí sim, definido pelas opções de Salles e Berg.

E essa criação coletiva invalida os méritos do diretor? Não. Pois talvez ninguém conhecesse melhor os interesses, medos e métodos de Coutinho como este carinhoso grupo responsável pela conclusão de “Últimas Conversas”.

Assim, de forma sutil, estão presentes no filme – pela montagem – as intenções de Salles e Berg sobre a persona tão presente de Coutinho no quadro. Seja pela sua imagem, seja pela voz.

São as inquietações do velho bruxo, porém, que pautam seus “entrevistados” (palavra que ele repelia) e que, como um hipnotizador, extrai os sentimentos mais caros e extremos dessas pessoas – o choro e a alegria – num tempo contato impressionantemente curto e com uma intimidadora câmera sob a mira de todos eles.

A primeira imagem de “Últimas Conversas” é impactante. Afinal é a Coutinho que vemos no lugar para onde ele sempre olha. A cadeira de seus personagens. De entrada, o filme nos mostra o cineasta em crise com o trabalho que está em curso.

É o quarto e penúltimo dia de filmagem e Coutinho lamenta o quanto os adolescentes são difíceis de acessar, porque ainda não possuem memórias marcantes, pois eles simplesmente vivem o momento, e já são impregnados por estímulos culturais muito fortes que sempre os cerca.

Já em “O Fim e O Princípio” (2005), o documentarista iniciava informando ao espectador sua insegurança com o que viria de resultado do projeto que estava apresentando. Não foi diferente com “Jogo de Cena” (2007) e, principalmente, com “Moscou” (2009). Mas nunca esse desconforto se mostra tão presente como agora.

É talvez por esta razão que “Últimas Conversas”, paradoxalmente, seja seu filme mais pessoal. Aquele em que a imagem de seu corpo e o som do próprio Coutinho chegue ao espectador com a força de revelá-lo.

Num de seus desconfortos, ditos na abertura do filme, o cineasta explica que é chegando pela memória de seus personagens que ele conseguia amá-los (é esse o verbo usado).

Talvez este seja, no final das contas, aquele “isso” que só Eduardo Coutinho – “um homem que já morreu” – conseguia.

PESQUISA – Para encontrar os personagens de “Últimas Conversas”, foram visitadas 12 escolas e, ao todo, 97 adolescentes foram entrevistados. Desses, 28 foram filmados por Coutinho, dos quais nove entraram no corte final: Tayna Veras, Bruna Barcelos, Rafaela Marques, Breno de Souza, Pâmela Luana, Estephane Silva, Thiago Theodoro, Evani Salles, Amanda Dantas, Luiza Peçanha.

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