25o Cine Ceará (2015) – noite 3
Jorge Furtado e o mistério do belo
Por Luiz Joaquim | 23.06.2015 (terça-feira)
FORTALEZA (CE) – Outra atração desejada e incontornável neste 25o Cine Ceará: Festival Ibero-Americano de Cinema foi o sexto longa-metragem de Jorge Furtado, a ficção “Real Beleza” (em agosto já nas salas de cinema), pelo qual o fotografo João (Vladimir Brichta) caça jovens e potenciais modelos no interior gaúcho e acaba se apaixonando pela casada Anita (Adriana Esteves), mãe de um candidata.
Longe das outras obras de ficção com explícita dinâmica humorística que Furtado nos deu ao longo de sua carreira cinematográfica, “Real Beleza” está mais próximo de um romance impossível, nos moldes de “As Pontes de Madson” (1985), de Clint Eastwood.
Outra semelhança curiosa está com o filme “Coleção Invisível”, do Bernard Attal, lançado há dois anos no Festival de Gramado, no qual também Brichta protagoniza como um viajante ao interior da Bahia movido pelo belo e encontrando um senhor cego e recluso (Walmor Chagas) com quem precisar negociar seu objetivo.
Em “Real Beleza”, este senhor é representado com uma dignidade tocante por Francisco Cuoco, cujo pequeno histórico cinematográfico não lhe ofereceu tantas oportunidades de mostrar seu talento para a contenção, própria do cinema, e normalmente negada pelas telenovelas.
Cuoco é Pedro, o pai da adolescente Maria (a deslumbrante Vitória Strada), um idoso cujo mundo se resume à reclusão de sua biblioteca e às suas memórias, enquanto a esposa Anita, quase quatro décadas mais jovem, observa a vida passar presa a ele por gratidão. A chegada do fotografo chacoalha suas convicções.
Todo transcorrendo dentro de um cenário entre o paradisíaco e romântico, Furtado acerta – com a ajuda do montador Giba Assis Brasil – naquilo que é mais caro a filmes assim, o ritmo e a química dos atores.
Cuoco rouba a cena, Brichta também brilha e ilumina seu personagem, e em Esteves percebemos um esforço dramático bem próximo de ser contemplado mas ainda assim eclipsado por anos de personagens piadísticos que defendeu na tevê.
“Real Beleza” deverá, ainda, levar muito gente ao cinema por uma rápida sequencia que mostra Esteves num nu frontal e, equivocadamente, deverá atiçar a mídia mais rasteira. Uma pena, se assim for, considerando a profundidade que Furtado buscou trazer com seu filme.
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