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Festivais

25o Cine Ceará (2015) – noite 4

Glauber sob revisão de Geneton

Por Luiz Joaquim | 23.06.2015 (terça-feira)

FORTALEZA (CE) – Glauber Rocha (1939-1981) volta à pauta das mídias dez dias após a exibição de “A Vida É Estranha”, media-metragem exibido no 4o Olhar de Cinema, em Curitiba, revelando imagens inéditas feitas pelo cineasta no Marrocos em 1973.

Desta vez, a mais nova centelha que reacendeu o fogo a partir das inquietações do grande nome do Cinema Novo surgiu pelo documentário “Cordilheiras no Mar: A Fúria do Fogo Bárbaro”, do jornalista pernambucano Geneton Moraes Neto, cuja primeiríssima exibição pública aconteceu domingo na competição do 25o Cine Ceará: Festival Ibero Americano.

Nem o próprio Geneton havia visto o filme numa tela grande, revelou ele ao subir ao palco do Cine São Luiz. Dedicando a sessão a Vladimir Carvalho, homenageado do festival pelos 80 anos, o realizador também adiantou ao público que a essência daquela obra que estava para apresentar poderia servir mais a uma discussão política que cinematográfica.

De fato, em “Cordilheiras…” seu diretor nos oferecer um volume largo de depoimentos vitais pelas vozes em sua maioria de artistas e intelectuais que conviveram com Glauber, sendo ora intensos ora reveladores, mas sempre profundos em seu caráter revisionista no que diz respeito à patrulha ideológica sofrida pelo cinemanovista quando declarou, ainda no exílio em 1974, simpatia ao General Golbery por meio de carta enviada da Itália e publicada na Revista Visão.

São falas de gente como Zuenir Ventura, Carlos Heitor Cony, Caetano Veloso, Arnaldo Jabor, Fagner, Caca Diegues, Orlando Senna, Jânio de Freitas, Fernando Gabeira, Luiz Carlos Barreto, Nelson Pereira dos Santos, Jards Macalé, Zelito Viana, Jaguar e mais quatro personagens além de, ninguém menos, Miguel Arraes (1916-2005) e Francisco Julião (1915-1999).

Destes últimos, o documentarista guardara as entrevistas por 24 anos e só agora as revela em seu filme destacando a conversa que ambos tiveram com Glauber no exílio.

“Cordilheiras…” acaba, assim, resultando como um encadeamento duro de falas que são aliviadas apenas pela inserção intercalada de uma performance (ótima) com a qual Cláudio Jaborandy dá dramaticidade à palavras escritas por Glauber.

Ainda no início, Geneton também conta com ajuda dramatúrgica de Paulo Cesar Pereio, Ana Maria Magalhães e Aderbal Freire Neto, alem de depoimentos preciosos dos críticos Serge Daney (Cahiers du Cinéma), Louis Marcorelles (Le Monde), do historiados Marc Ferro, e do cineasta Jean Rouch sobre a febre necessária que era Glauber.

Tudo isso gravado em 1980 na França, ano que o então estudante Geneton conheceu Glauber numa sessão para a crítica local de “A Idade da Terra”.

Apesar do aspecto tradicional do ponto de vista cinematográfico, “Cordilheiras…” é importante – principalmente neste momento de generalizadas discussões políticas no modo “Fla x Flu” que assolam o País – por esgarçar, entre outras coisas, o empertigado espírito pátrio-amoroso de Glauber e sua visão audaciosa e, principalmente, corajosa em estender a mão para o governo de Ernesto Geisel (1974-1979) antevendo ali um momento crucial de uma inicial abertura política, como de fato a história comprovou anos depois.

Hoje revisto, tal ato do cinemanovista acabou sendo entendido pelos colegas quase como uma auto-imolação dentro de seu espírito religioso protestante metodista, que via na crença luterana de Geisel um outro ponto de partida para se chegar ao equilíbrio social nacional.

Com seu documentário e o foco no irrequieto e profético Glauber, Geneton nos coloca por dentro de um processo marcadamente traumático e nos saculeja forte quando o tema são certezas políticas.

PERNAMBUCO – A noite de domingo no 25o Cine Ceará também viu a projeção do curta-metragem “Av. Presidente Kennedy”, de Adalberto Oliveira; um interessante registro que ganha força da trilha sonora dando um aspecto de horror a um via urbana olindense, cujos problemas são diretamente relacionados ao surrealismo.

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