4º Olhar (2015) – abertura
Ampliando os horizontes
Por Luiz Joaquim | 21.06.2015 (domingo)
É apenas a 4ª edição do Olhar de Cinema: Festival Internacional de Curitiba, que inicia hoje e segue até 18 de junho, mas o cuidado com o qual seus curadores – Aly Muritiba, Antônio Junior e Marisa Merlo – cuidam da extensa e rica seleção de títulos que apresentam pela primeira vez ao Brasil já faz muito barulho (bom) pelo zelo e inteligência. E não é a primeira vez.
Para se ter ideia do potencial deste 4ª Olhar, ele próprio pode lançar a pergunta: qual evento cultural no mundo tem a chance de lançar um obra inédita com imagens de Glauber Rocha (1938-1981)? Pois bem, entre os 53 longas e 39 curtas-metragens de 32 países diferente, o festival tem como destaque no programa “Outros Olhares” o lançamento amanhã de “A Vida É Estranha”, com imagens captadas pelo mais forte nome do Cinema Novo.
Em 39 minutos, o filme apresenta o registro na bitola Super-8 feito em uma viagem pelo cineasta ao Marrocos nos anos 1970, quando namorava a cantora novaiorquina Mossa Bildner. O filme foi encontrado quando o jornalista Cristiano Castilho de “A Gazeta do Povo” entrevistou a musicista e descobriu que tal registro estava esquecido numa cópia em VHS.
A produção do Olhar não teve dúvidas e correu atrás do material para produzir uma nova cópia em DCP com som em 5.1 canais, correção de cores e novas cartelas de informações no filme. Com imagens mais concentradas na cidade de Essaouira, a obra também apresenta imagens de Madri, Marrakech e de Casablanca. Além de composições de músicos marroquinos, o som do filme traz também uma poesia de Clarice Lispector musicada por Mossa.
DIVERSIDADE
Este ano o Olhar dividi-se entre dois complexos de cinema – o Cinesystem e o Espaço Itáu – para dar conta de programas como o competitivo (com dez longas, entre eles o cearense, “A Misteriosa Morte de Pérola”, de Guto Parente); o “Outros Olhares” (com filmes esteticamente mais radicais, entre eles “Snakeskin” (de Singapura), dirigido por Daniel Hui, e o documentário “Sete Visitas”, em que o realizador Douglas Duarte conversa com seis documentaristas, entre eles Eduardo Coutinho, para investigar o quanto há de teatro num doc de entrevistas).
Já o “Novos Olhares” é dedico ao primeiro longa-metragem. São seis filmes em competição de várias partes do mundo, entre eles o paulista “Nova Dubai”, de Gustavo Vinagre (do curta “Filme para Poeta Cego”), mostrando um grupo de amigos que decide fazer sexo em lugares públicos como manifesto contra a especulação imobiliária numa cidade do interior.
Além da “Mirada Paranaense”, trazendo filmes locais, das “Exibições Especiais” e da mostra “Foco” (com obras que rarissimamente chegam ao Brasil, este ano apresentando cinco filmes do americano Nathan Silver); o evento programa o “Olhar Retrospectivo”. Em 2015, as atenção são para o cinema de Jacques Tati, com seis longas e seis curtas do mestre francês, além do documentário “Au Delá de Playtime”, de Stéphnane Goudet, professor de cinema da Paris 1, que vem a Curitiba para ministrar uma aula dedicada ao cinema do mestre do humor francês.
Uma das coqueluches do Olhar de Cinema é a mostra “Olhares Clássicos”. É composta por obras restauras em versão digital de clássicos de mestres do cinema mundial. Em 2015 os nomes que brilham no festival são os de Elia Kazan, “Sindicato de Ladrões” (1954), com Marlon Brandon; Nicholas Ray, “Johnny Guitar” (1954), com Joan Crawford; Roberto Rosselini, “Stromboli” (1950), com Ingrid Bergman; Jean Cocteau, “Orfeu” (1950); Andrea Tonacci, “Bang Bang” (1971), com Paulo César Pereio; e animação japonesa de Hayao Miyazaki, “Meu Amigo Tororo” (1988).
Acompanhe a cobertura do 4º Olhar de Cinema pela Folha de Pernambuco ou pelo CinemaEscrito a partir desta sexta-feira (12).
0 Comentários