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Festivais

4o Olhar (2015) – noite 1

-Rabo de Peixe- abre o Olhar de Cinema

Por Luiz Joaquim | 12.06.2015 (sexta-feira)

CURITIBA (PR) – É uma das principais funções de um festival de cinema, senão a principal, apresentar boas e desafiadoras obras de desconhecidos talentos à comunidade que o abriga.

Esta função o Olhar de Cinema: Festival Internacional de Curitiba tem perseguido com afinco desde o início, e não está sendo diferente nesta 4a. edição que abriu quarta-feira com a exibição de “Rabo de Peixe”, documentário dos portugueses Joaquim Pinto e Nuno Leonel.

Não que Pinto seja um desconhecido da comunidade cinematográfica mundial mas, na verdade, sua obra como diretor só agora começa a chamar a atenção de grandes festivais.

E apesar de já vir assumindo o comando de filmes, a maioria documentários, desde o final dos anos 1980, a grande referência do cineasta é como técnico de som. Neste papel já colaborou para gente como André Téchiné, João César Monteiro, Raul Ruiz e Manoel de Oliveira, somando mais de 60 filmes.

Ano passado, um outro filme de Pinto (“E Agora? Lembra-me”) foi eleito o melhor filme no 3o Olhar. Numa forma muito carinhosa de se relacionar com este festival, o cineasta – debilitado pela saúde – enviou um vídeo de agradecimento que foi exibido na sessão de premiação em 2014.

Para a sessão de abertura de dois dias atrás, enviou um novo filminho que introduziu a sessão de “Rabo de Peixe” para agradecer o carinho dos curitibanos.

Só por este vídeo-agradecimento, fica tácita a sensibilidade de seu autor para a forma como transformar eventos que podem ser chamados de banais em poesia por imagens em movimento. Citando Milan Kundera, por exemplo, nos lembra que antes “o silêncio não era o tédio. Era a paz”.

No caso de “Rabo de Peixe”, Pinto e seu companheiro Leonel resgataram em 2015 o material bruto captado entre 1999 e 2002 numa pequena comunidade dos Açores (Portugal), que fizeram sob encomenda para a tevê portuguesa, tendo sido exibido em 2003.

Atentos à riqueza que tinham na mão, decidiram fazer a “versão do diretor” daquela história e, agora, temos uma perspectiva muito mais profunda sobre a relação que apresenta sobre os pescadores da região.

São esgarçadas relações com o mar, com suas próprias vidas (dos diretos e dos pescadores) e um pouco sobre os conflitos contra a atual pesca industrial nesse ambiente onde, por centenas de anos, os populares tinham liberdade e por ela fizeram sua fama mundial.

A profundidade dessa poesia está exatamente em como Pinto e Leonel constroem essa história. Com comentários em off cobrindo as imagens, a dupla terminar por estender para o campo existencial a luta do pescador Pedro que precisar se adequar à legislação da polícia marítima para fazer o que sua família já fazia há centenas de anos. É o cinema documental fazendo o que de melhor pode fazer.

MEMORIA – Joaquim Pinto passou a ser conhecido como diretor pelos recifenses ano passado, quando seu “E Agora? Lembra-me” exibiu na competitiva do 18o Cine-PE e saiu de lá com o prêmio Abraccine (da crítica).

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