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Reportagens

Duas Mulheres em Preto e Branco – filmagens

Radiografia do feminino

Por Luiz Joaquim | 27.06.2015 (sábado)

Após sua estreia num longa-metragem em 2010 – o documentário “Porta a Porta: A Política em Dois tempos” (quando investigava os bastidores da eleição de 2008 no município de Gravatá) -, o cineasta Marcelo Brennand volta agora a comandar uma nova produção cinematográfica.

Desta vez o realizador enverada para um campo novo, a dramaturgia, e num curta-metragem. “Pensávamos no projeto originalmente para um longa, mas uma vez que o roteiro ia sendo adaptado, com Anna Carolina Francisco, vimos que a dimensão dramática servia mais a um curta. Demos um passo para trás, nesse sentido, mas cada projeto tem uma vida própria e precisamos respeitá-la. Nossa vontade não pode ser maior que ela”, disse o cineasta.

Ele se refere a “Duas Mulheres em Preto e Branco”, curta cujas gravações aconteceram entre o domingo e a quinta-feira passada, dividindo-se entre duas locações, durante as madrugadas, no cinema São Luiz e o edifício Pernambuco (no bairro de Santo Antônio).

Adaptado de um conto homônimo de Ronaldo Correia de Brito – constante do livro “Retrato Imorais” -, o enredo acompanha duas mulheres maduras, Sandra e Letícia (Gilda Nomacce e Malu Bierrenbach) que resgatam histórias e rancores envolvendo traições no passado, indo até os anos 1970 quando, jovens (interpretadas por Miriã Possani e Anaterra Veloso), integravam o espírito da contracultura, brigando contra a propriedade privada, o capitalismo desenhando uma esquerda mais festiva que propriamente ideológica.

“Ao longo dos anos, seus ideias de igualdade foram mudando e elas foram se aproximando dos princípios morais mais autênticos, próprios delas mesmas”, adianta Marcelo. O diretor lembra que, à priori seu interesse de adaptação estava em outra obra de Correia de Brito – o romance “Galileia” – , “mas seus direitos já haviam sido vendidos e foi o próprio autor que sugeriu ler -Duas Mulheres…-“, lembra.

Marcelo não esconde que aproveitou a proximidade com Correio de Brito para promover longas conversas sobre as personagens. “Uma vez que venho do documentário, tinha a natural curiosidade de investigar quem eram essas mulheres”, diz.

Para o realizador, a história de amizade, amor e conflitos dessas duas mulheres funciona em duas esferas narrativas. “Uma macro e uma micro, pois ajudam a resgatar também a história do País. Acabamos falando do Brasil de hoje e das mudanças que sofreu da ditadura militar até hoje”, revela.

Como slogan para o curta, Marcelo registra o seguinte: “Na década de 1970 elas estavam a frente de seu tempo, hoje elas estão presas a si mesmas”. Sob a produção conjunta entre sua empresa, a Zérifo Filmes, e a Rec Produtores, o cineasta ajusta a agenda para iniciar a montagem em agosto, sob os cuidados do veterano João Maria (de “O Som ao Redor”).

Quem assina a fotografia é Beto Martins (“A História da Eternidade”) que, pelas palavras do diretor, “estava muito alinhado com o projeto. Ele lia minhas ideias com facilidade, o diálogo era rápido e conseguíamos enxergar a fotografia juntos”, diz. Marcelo deve finalizar “Duas Mulheres…” até novembro e daí trabalhar seu lançamento nos festivais de cinema a partir de 2016.

PEÇA – “Duas Mulheres em Preto e Branco” já foi encenado no palco e, à época, a atriz e Miriã Possani foi assistente de produção, tendo sua mãe atuando na peça. “Isso permitiu que Miriã chegasse a sua personagem no filme com muita tranquilidade, o tema já lhe era algo muito íntimo”, destacou Marcelo Brennand.

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