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Críticas

Sob o Mesmo Céu

Cameron Crowe sempre vale um visita

Por Luiz Joaquim | 11.06.2015 (quinta-feira)

Logo nas primeiras sequências de “Sob o Mesmo Céu” (Aloha, EUA, 2015), de Cameron Crowe, se percebe que estamos diante de uma historinha romântica contada de forma diferente. E, não raro, a forma pode melhorar em muito o conteúdo. É o que acontece aqui. Num leitura rasa, este romance de Crowe (craque que dirigiu “Vida de Solteiro”, 1992; “Quase Famosos”, 2000; e “Vanilla Sky”, 2001) não passa da ordinária história de um antes celebrado militar (Bradley Cooper) que retorna ao Havaí e lá reencontra o amor de sua vida, Tracy (Rachel McAdams), hoje casada, ao mesmo tempo em que finalmente começa a se apaixonar por uma piloto da Força Aérea, Allison (Emma Stone, iluminada).

Numa leitura mais profunda, temos a câmera na mão registrando todas as tensões dramáticas quase que de forma documental, colada ao rosto dos atores, e com diálogos rápidos, obedecendo também os silêncios que pontuam a vida real. É talvez no desembarque de Brian (Cooper) no Havaí o momento no qual tais expressões melhor se manifestam, quase como que dando um recado ao espectador no início do filme sobre suas intenções estéticas.

Estética à parte, há ainda a riqueza dos segredos e revelações de personagens satélites – como o marido silencioso (John Krasinski) de Tracy; e os filhos do casal (Danielle Rose Russell e Jaeden Lieberher) – que ajudam a tornar as tensões vividas pelo trio de protagonistas mais densa. Em boa sintonia, Cooper, McAdams e Stone funcionam em bom ritmo, como numa dança bem ensaiada de olhares e troca de diálogos.

Emma Stone vale um comentário à parte. Com seus grandes olhos bem aproveitados aqui, a atriz dá uma eletricidade radiante e cativante à iniciante Allison. Orgulhosa por ser 25% havaiana, ela leva muito a sério (e nos faz acreditar em) todas as lendas do arquipélago com suas potencias espirituais. Aos poucos, ela vai desmanchando o muro sentimental construído por Brian por conta do amor perdido de Tracy, 15 anos antes.

Nesse enredo, entrecruza-se o tema político por parte da presença do megamilionário Carson (Bill Murray, divertindo-se). Ele é o contratante de Brian para conseguir lançar do Havaí um míssel com conteúdo secreto ao espaço. Nessa lacuna, Crowe aproveita para preenchê-la (como ao longo do filme) com seu hábil conhecimento musical (foi crítico da revista “Rolling Stones”), dando a “Sob o Mesmo Céu” uma trilha sonora bem agradável de ouvir.

Falando em sons, numa importante sequência de “Sob O Mesmo Céu”, uma “arma” com “todos os sons do mundo” é enviada para evitar uma catástrofe espacial. Na bomba está uma seleção de sons escolhidos por Cameron Crowe e entre eles a abertura da canção “Mundo dos Sonhos”, de Robertinho do Recife, que compõe a trilha sonora da telenovela “Pantanal”.

Curioso que, o lançamento da tal arma no filme norte-americano remete à produção brasileira “Branco Sai, Preto Fica”, de Adirley Queiroz, feita na Ceilândia, quando uma bomba de sons explode a Capital Federal.

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