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Críticas

Cidades de Papel

Juventude em busca de si mesmo

Por Luiz Joaquim | 09.07.2015 (quinta-feira)

O nome do escritor norte-americano John Green já não é desconhecido da juventude brasileira (e de alguns adultos também) desde que seu mais recente romance “A Culpa É das Estrelas” virou filme ano passado. Tornou-se “febre” entre os adolescentes não apenas locais, mas mundo afora. Sem perder tempo, Hollywood lança (hoje no Brasil) “Cidades de Papel” (Paper Towns, EUA, 2015). Dirigido pelo novato Jack Schreier, o filme é adaptado de um romance mais antigo de Green, lançado em 2008, também seguindo as angústias de personagens adolescentes.

Uma combinação de boas escolhas torna “Cidades de Papel”, o filme, simpático. A começar pela escolha do elenco, que não opta por atores pautados por um padrão de beleza canônica. O garoto Nat Wolff (o Isaac de “A Culpa…”) é um sujeito com o qual o público pode se reconhecer pela aparência. E, uma vez considerando seu personagem Quentin, pode também se ver pela sua personalidade.

“Cidades…” abre com Quentin aos 7 anos de idade conhecendo e imediatamente apaixonando-se pela sua nova vizinha Margo (Cara Delevingne), figura que já criança apresenta-se como um espírito livre. Indomado. Ela é o oposto de Quentin que, na adolescência, nunca foi a uma festa e divide seu tempo com os únicos amigos: Radar (Justice Smith) e Ben (Austin Abrams), Quentin é tão metódico que não apenas já sabe, no ensino médio, que será um médico, como sabe qual será sua especialidade. O sonho é ser um oncologista.

Ao longo da adolescência o temperamento, os objetivos e a disciplina, ou a falta dela, acabam por afastar Quentin de Margo. Enquanto na escola ela torna-se um ícone de independência e atitude (palavra gasta entre os adolescentes, mas é a que melhor cabe aqui), Quentin, por seu lado, toca sua postura na escola em função de um futuro que imagina brilhante, casando-se aos 30, tendo filhos ali e finalmente liberando-se para ser feliz.

Tudo muda numa noite, quando prestes a concluir o segundo grau e partir para a faculdade, Margo pede a ajuda de Quentin e aquilo que parecia impossível ganha contornos de acessível, com ela fazendo o rapaz experimentar um pouco de emoção em sua vida equilibrada.

Daí em diante, Quentin precisa literalmente tomar coragem para ir atrás do amor de sua vida e, no percurso, não só ele, mas todos seus amigos,irão aprender uma lição sobre a necessidade de ter coragem para sair da zona de conforto e encarar o que de improvável e enriquecedor a vida pode oferece.

Dizendo assim, o enredo soa como um belo roteiro de auto-ajuda. E ele não se furta dessa pecha mas, mesmo com buracos num roteiro que se predispõe enveredar por uma trama investigativa, “Cidades…” agrada.

Além dos atores comuns, dos personagens comuns – passando pela tema “sexo na adolescência” sem rebaixá-lo ao habitual denominador mínimo comum pelo qual Hollywood costuma se ocupar –, e ainda com uma trilha sonora leve, pop mas sem afetação e casando bem com o espírito libertário que o enredo sugere, tudo isso, enfim, fazem do percurso pelo filme algo agradável.

Não vá esperar aqui conclusões muito sofisticadas, mas elas parecem numa boa medida pra alcançar alguns jovens e fazê-los repensar em dogmas que podem lhe parecer intransponíveis.

ADAPTAÇÕES – O sucesso de “A Culpa É das Estrelas” e o previsível sucesso de “Cidade de Papel” estimulou os estúdios a adaptar novos romances de John Green ao cinema. Em 2016 veremos nas salas “Deixe a Neve Cair” (escrito em 2008) e “Quem É Você, Alasca?” (de 2005).

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