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Críticas

Rainha & País

Descoberta das paixões

Por Luiz Joaquim | 02.07.2015 (quinta-feira)

Estreia “Rainha & País” (Queen and Country, GB/USA, 2014), filme do veterano John Boorman (“Amargo Pesadelo”, “Excalibur”), feito a partir de memórias de sua juventude e partindo literalmente de um outro de seus sucessos: “Esperança e Glória”, que foi lançado há longínquos 28 anos e tendo concorrido à época a cinco Oscars (filme, direção, roteiro, fotografia, direção de arte).

No enredo de “Rainha & País”, entretanto, passaram-se nove anos e o protagonista Bill Rohan (Callum Turner) está com 18 anos de idade vivendo com os pais Grace (Sinéad Cusack) e Clive (David Hayman, único ator do filme anterior aqui presente). O ano é 1952 e Bill divide-se entre tomar coragem para abordar uma garota que o encanta, e ser esquecido pelo país para cumprir o serviço militar por dois anos.

Sendo a convocação militar inevitável, com uma possível intervenção da Inglaterra contra a Guerra entre a Coreia do Norte e do Sul – num inicial contexto da Guerra Fria com o capitalismo contra o socialismo -, a história de Bill transcorre quase que totalmente no quartel, durante o treinamento de recrutas para o combate, ou simplesmente para aprender a datilografar bem e com bastante humor irônico.

Um dos focos aqui, entretanto, são as contestações de Bill e seu inseparável amigo Percy (Caleb Landry Jones) contra a disciplina rígida do exército – muito bem representada e defendida por David Thewlis – e comicamente levada por Percy, com seu espírito intempestivo e anarquista, ao contrário do comedido amigo Bill.

Dividem-se aqui os naturais interesses da dupla de amigos por mulheres, só que expressa por um forma mais romântica pela perspectiva de Bill, que se apaixona por uma misteriosa jovem (Tamsin Egerton) a quem chama de Ophelia – em referência a “Hamlet”. Ela é quatro anos mais velha que ele e claramente pertencente a uma casta social mais abastada.

Hipnotizado pela beleza elegante de Ophelia, de quem percebe muita tristeza apenas pelos seus olhos, Bill aproxima-se dela até entender que seus universos são distintos.

No dia da coroação de Elizabeth II, durante visita de Ophelia à pequena ilha em que mora a família de Bill, ficam claras tais distinções e abre-se também espaço para destacar um pouco de histórias implícitas que foram destaques do filme anterior, como um antigo romance secreto da mãe de Bill, e a gravidez prematura de sua irmã Dwan (Vanessa Kirby).

É também quando o filme ressalta o desinteresse de Bill pela Rainha, ou pelo País, e ainda mais pelos ideais militares que produziram figuras traumatizadas, como o personagem de Thewlis, além de exigirem uma postura firme de seus soldados com a causa da Coroa Britânica.

Não há, porém, nenhum problema em assistir “Rainha e País” sem nunca ter visto o ótimo “Esperança e Glória”. Boorman fez aqui apenas um carinhoso e interdependente caminho para contar a história da formação de um jovem rapaz romântico e sensível que, ao final, viu no cinema um objeto de prazer e de respostas para tantas perguntas próprias da juventude.

ORIGEM – “Esperança e Glória” passa-se em 1943, quando estamos na Segunda Guerra Mundial. Enquanto seu pai está em campo de batalha, e sua mãe e irmãs são aterrorizadas pelas ruínas do conflito, para o pequeno Bill (Sebastian Rice-Edwards) tudo é uma grande aventura. Inocente, para ele, a guerra significa dias sem aula e brincadeiras em meio aos bombardeios. No processo, o menino aprende sobre a morte, o amor, o sexo, a liberdade, a hipocrisia e os erros dos adultos.

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