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Críticas

Samba

Pra francês ver

Por Luiz Joaquim | 09.07.2015 (quinta-feira)

Entre 2011 e 2012, o francês Omar Sy (não, ele não é africano) levou milhões de pessoas aos cinemas do mundo inteiro com o seu boa-praça Driss. Um imigrante da África que, para além de atuar como o empregado de um tetraplégico milionário, ele vira seu melhor amigo. Estes milhões de espectadores mencionados, e que se tornaram fã do ator (principalmente a mulherada), podem se animar pois chega aos cinemas hoje “Samba” (Fra., 2015), dirigido pela mesma dupla do filme anterior, Olivier Nakache e Eric Toledano.

Sy volta com o mesmo charme e menos malandro que Driss (mas ainda malandro), e também vive novamente um imigrante da África. Desta vez do Senegal. Com a situação da legalidade de seu visto na França em questão, seu personagem, Samba (“como a dança”, explica ele), combina com a persona de um espírito que remete a um cachorro vira-lata, sem dono e desamparado, além de sempre gentil e prestativo, preocupado com os amigos.

Seu par romântico será exatamente uma executiva francesa fragilizada, Alice (Charlotte Gainsbourg), que se recupera de uma depressão de sua profissão massacrante enquanto presta serviço como voluntária, dando suporte legal à imigrantes em situação irregular na França.

O que empresta maior valor a este trabalho de Nakache e Toledano é que o romance improvável não segue sozinha como linha principal do enredo. É apenas parte integrante de um todo que inclui toda uma construção muito bem elaborada do personagem Samba.

O espectador vai saber, ao longo da projeção, da vida pregressa de Samba, vai saber o que ele veio fazer na França, como foram seus anos ali, saberá de sua família no Senegal, das frustrações de seu tio, o único familiar também morando em Paris, entre outras curiosidades.

São por elas que fazem da experiência de ver o filme, ao sair da sala, deixar o espectador com a impressão de que conheceu aquele cara simpático.

Perpassando tudo isso está, evidentemente, um outro tema extremamente caro à França nos últimos anos: a migração ilegal de estrangeiros ao País. Pelas circunstâncias bem construídas que mostra o entorno da realidade de Samba, o filme relativiza a legislação francesa no que diz respeito ao assunto. Ao personalizar uma situação, fica difícil não simpatizar com a causa.

Não está à toa a bela abertura de “Samba”, com o personagem sendo descoberto ao fundo de uma festa, lavando pratos, sendo o último dos últimos empregados, e seu encerramento, com Samba transformado, andando leve e dono de si, e ainda sendo ladeado por uma cavalaria francesa.

Entremeando estas tensões sociais e amorosas que se interpõem ao longo da história, há o conhecido humor já visto em “Intocáveis”, com uma boa música que empresta momentos divertidos à toda situação.

Parte da graça ficou sob responsabilidade do ótimo ator Tahar Rahim (de “O Profeta”, 2009), que vive aqui Wilson, um suposto brasileiro, com sotaque esquisito, e que rouba a cena da dança – antes um ponto alto de Omar Sy em “Intocáveis” – além de também alfinetar os franceses com uma crítica velada: “Sendo imigrante brasileiro é mais fácil conseguir emprego e pegar mulher por aqui”, garante Wilson. Coisa que o filme “comprova” rapidinho.

BRASIL – A cultura brasileira vivida por Wilson rende dois momentos de alegria difícil de esquecer em “Samba”. São embalados pelas músicas “Palco”, de Gilberto Gil, e “Take It Easy My Brother Charles”, de Jorge Ben Jor.

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