48º Brasília (2015) – noite 2
-A Família Dionti- abre competitiva de longas
Por Luiz Joaquim | 18.09.2015 (sexta-feira)
BRASILIA (DF) – Há uma beleza sutil e incomum no primeiro longa-metragem que foi exibido na noite de quarta-feira, dentro da mostra competitiva do 48o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. A produção carioca chama-se “A Família Dionti” e ganhou vida pela direção e roteiro de Alan Minas, mais conhecido pelo documentário “A Morte Inventada: Alienação Parental” (2009).
Na apresentação do filme, no palco do Cine Brasília, o cineasta ressaltou emocionado a intensidade das palavras criadas por gente como Guimarães Rosa e Manoel de Barros. E é na combinação dessa poética literária com os cenários grandiloquentes do interior de Minas Gerais, onde desenrola-se o enredo, que reside a sutileza do filme.
Já o que há de incomum apresenta-se no enredo que despreocupadamente assume o universo do realismo fantástico, tendo como protagonista o menino Kelton (Murilo Quirino), de 13 anos, que literalmente começa a se transformar em água por conta de sua primeira paixão, representada pela menina Sofia (Anna Luiza Marques). Ela chega à pequena cidade com sua família num circo.
Diálogos que podem ser entendidos como absurdos por um espectador mais cartesiano – “Quer que eu te empreste um sonho?”, diz com naturalidade Kelmer ao irmão mais velho que tem “chorado areia” –, também podem ser compreendidos como de uma liberdade e coragem criativa (de tom mais literário, é verdade) incríveis.
O filme vai ganhando o espectador aos poucos, mas não alivia em propor um estranhamento dentro desse universo fantástico, tanto nas situações, como nos diálogos que hora surgem mais orgânicos, horas parecem um pouco desconectados do todo. O fato é que “A Família Dionti” agradou a platéia que respondeu com bastante aplausos.
A sessão foi antecedida pelos curtas-metragens em competição “Command Action”, de João Paulo Miranda Maria, e “À Parte do Inferno”, de Raul Arthuso. Ambos de São Paulo.
O primeiro esteve na “Semana da Critica”, em Cannes, é detentor de um rigor na direção e, principalmente, no desenho de som impressionantes. A ação desenvolveu-se numa pequena feira livre numa cidade interiorana paulista tendo um garoto pobre com a missão de comprar legumes.
Com muita precisão e aproveitamento absoluto das informações que passa por meio de seus enquadramentos e por todos os ruídos da feira, “Command Action” traduz não só com inteligência, mas com beleza cinematografia a riqueza daquele universo.
Em “À Parte do Inferno”, quando uma mancha escura de uma infiltração no quarto de uma criança de classe média começa a fincar ligações com mendigos na rua e com um hipnotismo do garoto pelo chuvisco na tevê, um clique ascende com referencias claras ao cinema de gênero, onde não escaparam, por aqui, comparações à obra de John Carpenter, a “Águas Negras”, “Poltergeist”, “Trabalhar Cansa” e também “O Som ao Redor”.
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