Vulneráveis
Projeto multiformato repensa avanços em Pernambuco
Por Luiz Joaquim | 14.09.2015 (segunda-feira)
Celebrado de forma enfática nas falas oficiais do Governo, os investimentos feitas para a indústria no Estado de Pernambuco nos últimos anos vêm despertando a atenção sobre diversos pontos positivos pela sua cadeia econômica. Mas, e os aspectos humanos por trás desse plano de progresso a todo custo, cujo cenário é a Mata Norte (com a Fábrica da Fiat) e o Sertão (projetos da Transnordestina e da transposição do Rio São Francisco)? Para tentar desenhar uma espécie de antropologia das comunidades afetadas por essa transformação a Ateliê Produções e Alumia Produções e Conteúdo apresentam o projeto “Vulneráveis” e hoje projetam o braço audiovisual da empreitada às 19h, com entrada franca, no Cinema do Museu do Homem do Nordeste (Fundaj).
O evento da noite exibe na tela do cinema os quatro programas (cada um com 26 min.) pensados para veicular na tevê. A sessão será seguida de debate com os economistas Tânia Bacelar, José Raimundo Vergolino e a consultora em gestão sustentável Fátima Bryner, além dos jornalistas Laércio Portela e Cezar Rocha, idealizadores do projeto “Vulneráveis”. Estes últimos assinam os textos constando no livro que integra o projeto multiformato, envolvendo ainda um ensaio fotográfico de Tom Cabral.
“Se observamos os Índices de Desenvolvimento Humano durante os últimos 12 anos, vamos perceber que todos eles melhoraram. Que tiveram um salto. Mas queremos mostrar que nem tudo se resume ao aumento da renda. Há um espaço de vulnerabilidade aí, tudo está intricado. Queremos despertar um debate, não apontar uma resposta, porque há pontos cinzas aí que precisam ser abordados”, resume Portela.
“O livro é mais jornalístico. Não é uma transposição do que se vê nos vídeos, muito embora alguns de seus personagens apareçam nos textos, como Lindalva, do filme -Canavieiros- [de Dea Ferraz] ou o pedreiro da Mata Norte. Nos textos procuramos desdobrar algumas histórias, contando algumas trajetórias”, adianta Rocha.
A publicação também registra análise de alguns dos convidados do bate-papo de hoje à noite. Bacelar, por exemplo, aponta que “Suape tem potencial para ser portador de futuro…, assim como a cadeia que vai crescer em torno da Fábrica da Fiat. O problema é o enorme hiato entre esses dois mundos: o da cana e dos canavieiros sem qualificação e o das indústrias altamente especializadas do petróleo e do automóvel”. E complementa: “Não é por acaso que quem vem para a Região Metropolitana do Recife pedir esmolas sãos os velhos canavieiros. Essa geração mais velha, dos canavieiros, está fora do jogo. Não será integrada ao novo processo de industrialização”.
AUDIOVISUAL
Com personagens e propostas narrativas e estéticas distintas, os quatro episódios para a tevê da série “Vulneráveis” investigam as dificuldades de cortadores da cana para obterem seus direitos trabalhista (“Canavieiros”); pesquisa os efeitos da implantação da linha férrea da Trasnordestina na comunidade de Caldeirão dos Bois em Flores, Serra Talhada (“Caldeirão”. de Carol Vergolino, Getsemane Silva, Nathalia Gomes); observam o impacto da implantação da Fábrica da Fiat no entorno da região (“Mata Norte”, Tuca Siqueira); e acompanha o destino do salário mínimo de Lena, moradora da comunidade de Rio da Barra, Sertânia (PB), localidade economicamente já modificada com as obras da transposição do Rio São Francisco (“Dia de Pagamento”, da jornalista Fabiana Moraes).
O primeiro trabalho “Canavieiros”, surgiu independente do projeto. Teve seu roteiro, na verdade, premiado pelo concurso Rucker Vieira, da Fundação Joaquim Nabuco. “Fomos depois contemplados pelo Funcultura [Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura] e vamos desdobrá-lo em um longa-metragem”, adianta Ferraz, que entendeu ter material bruto suficiente para uma obra de maior duração já no processo de edição do curta.
Os episódios já estão sendo veiculados na grade da TV Senado, de Brasília, com a agenda seguindo no próximo final de semana. “Canavieiros” passa no sábado (19) às 22h, e domingo (20) às 23h; e “Dia de Pagamento” no sábado (26), às 22h, e domingo (27), às 23h. Toda a série será reexibida em outubro na mesma emissora.
SERVIÇO:
Sessão seguida de debate da série “Vulneráveis”
Às 19h no Cinema do Museu
Av. 17 de agosto, 2187, Casa Forte
Entrada franca
Livro “Vulneráveis”
Textos de César Rocha e Laércio Portela.
Fotografias de Tom Cabral
À venda na Livrária Cultura e Editora Bagaço
R$ 40
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