SÃO PAULO (SP) – Ninguém questiona o inestimável valor da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo em atualizar os brasileiros, em duas semanas, com os filmes mais importantes do ano, do ponto de vista de suas condecorações em festivais como Cannes, Berlim e Veneza, além dos futuros “oscarizáveis” como estrangeiro para o ano posterior.

E no primeiro dia – quinta-feira – aberto ao público nessa sua 39a edição, um dos títulos mais cobiçados já estava disponível: o francês “Dheepan: O Refúgio”, de Jacques Audiard, recebedor do prêmio máximo no Festival de Cannes, há cinco meses.

Assim com o fez em 2009 (e também foi premiado em Cannes) com “O Profeta”, quando nos apresentava um meio árabe, meio córsico chegando a uma prisão e precisando adaptar-se à violência, em “Dheepan” (nome do protagonista), o diretor nos cola ao lado desse ex-soldado (vivido por Antonythasan Jesuthasan), uma mulher e uma menina de nove anos, órfã, que fogem da guerra civil em Sri-Lanka, indo a Paris.

Fingindo-se uma família, conseguem refúgio do governo francês e passam a morar num subúrbio barra-pesada, dominado pelas drogas. Entre as dificuldades com o idioma, os aspectos de adaptação cultural, o desejo da mulher em abandonar a menina e Dheepan, e a brutalidade da velada violência ao redor, Audiard nos dá um filme extremamente complexo e envolvente com um tema com no mínimo cinco anos de polêmico na Europa: o refúgio a estrangeiros do Oriente Médio e da África.

Para além da sofisticada temática e da impressionante organicidade do roteiro, “Dheepan” é uma bela peça cinematográfica no que se refere também às opções estéticas, principalmente com a sequência final com Dheepan quase num ato suicida, que parece reforçar o instinto dos elefantes (há um assombrando o filme), quando voltam ao lugar de origem ao entenderem que estão para morrer. Comovente.

LANÇAMENTO –“Dheepan: O Refúgio” chegará na quinta-feira, 05/11, ao circuito exibidor comercial do Brasil com distribuição da Califórnia Filmes.