A Colina Escarlate
De volta à fábula de horror
Por Luiz Joaquim | 15.10.2015 (quinta-feira)
O mexicano Guillermo del Toro é um hoje um mais que respeitado realizador e roteirista nos EUA. Chamou a atenção de um mundo saturado por pobres filmes de horror em 2001 com o seu inspirado “A Espinha do Diabo” e, cinco anos depois, já produzindo com dólares americanos e euros espanhóis, estabeleceu-se como um nome sério no quesito “medo no cinema” com “O Labirinto do Fauno”. Daí a expectativa em torno de seu novo trabalho que estreia hoje, – “A Colina Escarlate” (Crimson Peak, EUA, 2015) -, um vez que, após realizar dois “Hellboy” e roteirizar os “Hobbits” de Peter Jackson, del Toro volta a transitar aqui pelo campo que o tornou celebrado: o das fábulas assustadoras.
E esta “Colina Escarlate” traz todos os elementos que gostaríamos de ver numa obra do cineasta que combina uma elaborada pesquisa histórica para dar vínculo com a realidade para as histórias que inventa, assim como uma sofisticada direção de arte para ilustrar seu enredo. Entretanto, ao refletir sobre a produção, a primeira palavra que emerge é “burocracia”.
Podemos dividir a análise sobre “A Colina…” em duas partes. A primeira seria sobre a metade inicial do filme. Com a apresentações dos personagens e a infeliz opção de del Toro em aplicar táticas cansadas – como ruídos estranhos, maçanetas que se abrem sozinhas e fantasmas digitais criados pela mente de experts da computação gráfica, temos nos primeiros 60 minutos do filme uma instabilidade entre a introdução do contexto histórico e os sustos habituais, com destaque para a, digamos, mediunidade da protagonista Edith (Mia Wasikowska, de “Mapa para As Estrelas”), que desde pequena escuta de sua falecida mãe o conselho: “Cuidado com a colina escarlate”.
O “contar uma história” aqui é seu ponto forte. Com muito bons e entrosados atores (que incluem Tom Hiddleston, como o britânico Thomas, e Jessica Chastain, como a irmã Lucille), del Toro encadeia bem a construção do misterioso interesse que leva Thomas e Lucille aos EUA no final do século 19. Lá Thomas tenta conseguir patrocínio com o engenheiro Cusher (Jim Beaver) – pai de Edith – para investir em sua invenção. Uma máquina que extrai uma argila que seria mais eficiente para construções.
Tudo é um pano de fundo para o real interesse de Thomas, que é conquistar Edith, uma aspirante a escritora de romances fantásticos, cuja inspiração é Mary Shelley (autora de “Frenkenstein”, 1811). Daí partimos para a análise da segunda metade do filme, cujo desenho plástico, sonoro e de efeitos visuais se sobressai (num mau sentido), em detrimento do roteiro, que aqui parece interessar-se apenas em criar clima, revelando-se, usualmente, frustrado. Muito dessa responsabilidade está na insistente inserções de fantasmas digitais que surgem para Edith. São bichinhos feios que se aproximam devagar, chiando algo e, de repente, pulam em você.
O que há a ser observado aqui é a presença de uma cena de sexo (discreta) e o sangue – vemos sangue saindo de corpos feridos – mas, principalmente, de facas e adagas como armas letais. Elas são bem usadas em cenas fortes. Ainda assim, uma sequência final de violência como estes instrumentos pode até soar cômica para alguns espectadores em função de sua pela insistência.
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