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Festivais

8º Janela (2015) – Futuro Junho

Entrevista com Maria Augusta Ramos

Por Luiz Joaquim | 12.11.2015 (quinta-feira)

Há poucas semanas do início da Copa do Mundo de 2014, a cineasta Maria Augusta Ramos acompanhou com sua câmera o cotidiano de quatro trabalhadores, no maior centro econômico do País: a cidade de São Paulo. O resultado dessa incursão, que acaba por revelar muitos dos paradoxos da sociedade brasileira, pode ser conferido em “Futuro Junho”. O documentário, que estreou em outubro, será exibido dentro da Mostra Competitiva de Longas-Metragens do VIII Janela Internacional de Cinema do Recife, hoje, às 19h10, no Cinema São Luiz.

No filme, cada um dos personagens representa um segmento econômico e social específico. Anderson dos Santos é metalúrgico, Alex Cientista trabalha como motoboy, Alex Fernandes é sindicalista metroviário e André Perfeito atua no mercado financeiro. A Copa aparece como um assunto recorrente no dia a dia dos quatro homens, mas não é esse o foco buscado pela documentarista. “Desde a crise financeira de 2008, eu comecei a me interessar pela questão do sistema econômico neoliberal e a influência que ele exerce na vida dos indivíduos e nas relações humanas. É isso que eu quero mostrar através da minha lente”, adianta Maria Augusta, por telefone do Rio de Janeiro.

Ao longo do documentário, surgem imagens que expõem um clima de tensão e apontam para a atual crise: metroviários em greve, mercado financeiro temeroso diante de um possível fracasso do maior campeonato de futebol mundial e ameaças de demissões no setor automobilístico. “A gente vê no filme o gene de tudo que está acontecendo em 2015. Escolhi filmar naquela época, justamente, porque a Copa funcionou como um catalisador. Foi um momento no qual a sociedade resolveu ir às ruas e questionar as escolhas de investimentos feitas pelo Governo”, explica. Ainda que de maneira indireta, Maria Augusta expõe as relações de poder dentro da sociedade brasileira, seja através do papel da Justiça, que julga a legalidade da paralisação, seja por meio da forte repressão policial durante os protestos.

Sem entrevistas ou narração, os quatro homens são filmados em seus locais de trabalho e em momentos da vida privada, em contato com a família e com os amigos. “Todas as minhas obras são construídas a partir de uma observação formal da realidade. Não me empenho em ouvir o que as pessoas pensam do mundo. Estou mais interessada na relação delas com o meio onde vivem, com os outros e com eles próprios, no sentido de revelar seus dilemas e utopias. A partir dessas interações, eles expressam desejos, pensamentos e frustrações de maneira muito mais rica e estimulante. Como documentarista, não acho que tudo precise ser explicado. Algumas lacunas devem ser deixadas para que o público reflita”, afirma.

OBRAS – O outro documentário lançado por Maria Augusta Ramos em 2015 é “Seca”, que já passou pela programação da atual edição do Janela Internacional de Cinema. Filmado em Pernambuco e na Paraíba, o filme se volta ao imaginário do semiárido brasileiro. As obras mais conhecidas da documentarista são a trilogia “Morro dos Prazeres” (2013), “Juízo” (2007) e “Justiça” (2004).

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