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Festivais

8º Janela (2015) – Para Minha Amada Morta

Horror psicológico de um víúvo em fúria

Por Luiz Joaquim | 14.11.2015 (sábado)

Se havia um longa-metragem que podia concorrer com “Big Jato”, de Cláudio Assis, pelo título de melhor filme no 48º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, há dois meses, esta produção era o paranaense “Para Minha Amada Morta”, de Aly Muritiba; realizador que é também um dos diretores do Olhar de Cinema: Festival Internacional de Curitiba – evento que é uma espécie de irmão mais novo do Janela na região Sul do País.

Pois “Amada Morta” ganha exibição única às 20h de hoje no São Luiz, dentro do 8º Janela Internacional de Cinema do Recife. Aqui, entretanto, ele não exibe em competição. No festival brasilense, Muritiba levou os candangos de direção, montagem, direção de arte e pelos ator e atriz coadjuvantes, respectivamente, Louri Vlademir e Giuli Biancato.

Muritiba, na verdade um baiano radicado em Curitiba, tem uma trajetória muito especial e distinta da maioria de seus colegas cineastas. Antes de se dedicar ao cinema em 2007, foi agente penitenciário e professor de história. No início desta década, começou a chamar a atenção com seus primeiros trabalhos, todos com forte tom documental, cujo cenário foi invariavelmente o sistema prisional, filmando com a propriedade de quem tem intimidade com assunto. Assim ganhou um centena de prêmios pelo mundo com a “trilogia do cárcere”, pelos ótimos curtas “A Fábrica” (2011) e “O Pátio” (2013), e o longa “A Gente” (2013).

Este 2015 viu nascer dele (junto com Marja Calafange) o belo curta “Tarântula”, um dos poucos brasileiros no Festival de Veneza. Já “Para Minha Amada Morta” nasceu no Brasil na Capital Federal. É seu primeiro longa de ficção, e também anda ganhando fama pelo exterior. Com justiça.

Muritiba conduz com uma segurança de veterano este thriller que acompanha o sofrimento de um fotógrafo de uma, ora vejam, triagem policial. Ele é Fernando (Fernando Alves Pinto, talvez em sua melhor performance no cinema), e está em luto recente pela esposa. Enquanto arrasta-se pela vida, cuidando do filho pequeno, cascavilha as roupas e pertences da falecida, até encontrar um fita em VHS reveladora de um segrego que o desequilibra. Fernando inicia aí um caminho sem volta em busca de vingança, ou alívio, ou os dois, não se sabe muito bem.

E este é um dos trunfos do filme. O roteiro cuidadoso de Muritiba faz do espectador uma testemunha tão tensa e perdida (sem nós deixar confusos) quanto são as íntimas intenções do próprio Fernando. E a precisão não reside apenas no roteiro. Muritiba e seu fotógrafo Pablo Baião apresentam enquadramentos que são ricos não apenas na plástica, na informação formal para a narrativa. É um belo sinal de comunhão entre toda a equipe técnica. Inclua-se aí os atores, todos à vontade, com especial destaque para Louri Vlademir, um protestante casado com a personagem de Mayana Neiva, que Muritiba tentou enfeiá-la aqui mas, evidentemente, não conseguiu.

FUTURO – Aly Muritiba segue produzindo. Trabalha agora na elaboração de seu próximo longa-metragem, “Jesus Kid”. Trabalho que desenvolvido a partir de uma história de Lourenço Murtarelli.

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