A Visita
Agora o horror é concreto
Por Luiz Joaquim | 27.11.2015 (sexta-feira)
Se o leitor lembra do diretor M. Night Shyamalan apenas pelo primeiro sucesso – “O Sexto Sentido” (1999) -, está na hora de ir ao cinema ver um outro filme seu que pode grudar na sua memória por muito tempo. Chama-se “A Visita” (The Visit, EUA, 2015) e está em cartaz nos multiplex do Grande Recife. Como no primeiro filme, o indiano naturalizado americano volta a trabalhar com crianças. E aqui ele remarca também a sua característica em desenvolver um elaboradíssimo roteiro que conduz o seu espectador para um caminho quando, na verdade, este deveria observar as outras possibilidades desse caminho.
Desta vez a criança não vê pessoas mortas. O terror está e vai crescendo na vida real. E é interessante observar a diferença de postura da criança criada há 16 anos por Shyamalan (também roteirista) para a criada hoje. Em 1999, o menino Cole (Haley Joel Osment) tinha medo e agia como um garoto. Já o jovem Tyler (Ed Oxenbould) de “A Visita” tem oito anos, mas age com um pequeno adulto. É igual com sua irmã mais velha, Becca (Olivia DeJonge), que está fazendo um documentário sobre o primeiro encontro que terá com os avós, a quem nunca viu.
Aí começa a beleza de “A Visita”. Uma vez que toda a perspectiva que temos do filme, do início ao fim, é a da câmera dos jovens, vamos aos poucos percebendo o tamanho da elaboração desse roteiro e design de produção, que inclui tempos mortos na inicial jornada dos dois jovens que vão sozinhos à casa dos avós numa remota fazenda, sem sinal wifi de Internet.
A ideia do doc. é da própria Becca, que quer entender porque a mãe (Kathryn Hahn) fugiu há 15 anos da casa dos pais, quando tinha 19 anos de idade, e nunca detalhou a razão. Sua mãe também nunca voltou a falar com os pais desde então. Becca quer com o filme, ao mesmo tempo, reconciliar sua desquitada mãe com seus avós e também lhe dar uma folga, que precisa de férias com o novo namorado de nome latino.
O primeiro terço de “A Visita” fica, portanto, responsável por essa apresentação dramática e por aproximar o espectador destes personagens. O faz bem, uma vez que a personalidade de Tyler se impõe (Oxenbould é incrível, guardem esse nome), como um moleque cativante que só pensa em ser rapper.
Os outros dois terços do filme se responsabilizam por mostrar o quanto os netos estão isolados com estes seus avós, com quem nunca conviveram, e o quanto isso começa a ficar desconfortável na medida em que os velhos passam a se comportar de modo estranho e assustador. Contar mais seria errado.
Afora todas a informações pragmáticas que fazem o enredo ter um sentido e se movimentar para a frente, “A Visita” usa e abusa (num bom sentido) de brincar com as possibilidades da linguagem cinematográfica. Dá para imaginar, inclusive, o quanto Shyamalan divertiu-se não só escrevendo quanto filmando essa história. Apesar de, contada assim, a ideia sugerir algo tecnicamente tosco, a produção teve todos os cuidados para nada chegar tosco ao espectador. E talvez essa contradição deixe alguns críticos de cinema excitados para colocar problemas ondem não existem neste interessantíssimo filme de Shyamalan.
ORÇAMENTO – “A Visita” foi feito sem astros conhecidos no elenco e produzido de forma quase independente. O orçamento foi pequeno para os padrões norte-americanos – US$ 5 milhões -, e já rendeu mais de US$ 61 milhões. Para quem gosta de medir sucesso por números, é só fazer a matemática.
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