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Críticas

Pasolini (2015)

Ferrara revê Pasolini

Por Luiz Joaquim | 30.11.2015 (segunda-feira)

Abel Ferrara, 64 anos, icônico cineasta norte-americano. Pier Paolo Pasolini (1922-1975), icônico cineasta italiano. Chega ao Recife – no Cinema da Fundação – o filme que o primeiro fez sobre os últimos dias de vida do segundo, quando assassinado há 40 anos no município italiano de Óstia. História que, à época, surgiu cercada de desconfianças conspiratórias, visto a militância artístico-política do diretor de “Salô, ou 120 dias de Sodôma” (1975).

Mas Ferrara faz do assassinato algo quase isolado da tensão política que circundava a vida do cineasta italiano. Quase, pois o assunto está lá. E aparece num dos momentos mais interessantes – por meio de uma entrevista do realizador a um jornalista – com a entrega total de um sempre ótimo Willem Dafoe na pele de Pasolini. Mesmo com diálogos em inglês, apenas com um óculos escuros e o figurino certo, Dafoe não nós deixa pensar que ali há um encenação (apesar de um ou outro mimetismo, como a mão que é sempre levada à testa ou à boca), mas sim que o próprio Pasolini está ali revivido.

Não é fácil, entretanto, enxergar aqui a pujança do que se está habituado a ver tanto nos filmes de Ferrara quanto nos de Pasolini. “Pasolini”, o filme, é forte, não há dúvidas, principalmente ao desenhar a ideia de um autor solitário e à frente de seu tempo, mas Ferrara aciona suas ferramentas numa outra escala de violência. Ela aqui é silenciosa no cotidiano mostrado do realizador, entre outros momentos, ao lado da mãe.

Mas, entrecortada, a narrativa pode dispersar, quando, mesmo bela, constrói aqui dramaturgicamente aquele que foi o projeto literário interrompido de Pasolini – “Petróleo”, o livro que seria uma súmula de toda sua memória. A versão audiovisual para “Petróleo” dada por Ferrara conta com a presença de luxo do ator pasoliniano Ninetto Davoli. “Pasolini”, o filme vale assim ser visto, ainda que por mostrar uma maneira bem particular de representar aquele que é uma referência mundial em suas íntimas inquietações artísticas e políticas.

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