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Reportagens

Severinos revistos

Em busca de mudanças e permanências

Por Luiz Joaquim | 30.11.2015 (segunda-feira)

Próprio das grandes obras de arte, “Morte e Vida Severina”, escrito por João Cabral de Melo Neto (1920-1999) e lançado em 1955 nunca parou de ser revisitada. Ganhou diversas leituras que passaram pelo teatro – uma das mais importantes foi a feita dez anos após o lançamento do livro de poemas, com encenação musicada por Chico Buarque. Pelo cinema, Zelito Viana dirigiu um filme em 1977 com os severinos José Dumont, Stênio Garcia e Jofre Soares. Já ganhou também especiais para a tevê quando em 1981 a tevê Globo nós deu um tele-musical com Elba Ramalho, e depois virou animação e até HQ, quando aqui em Pernambuco o ilustrador Miguel Falcão colocou em traços os percalços do retirante que vai do sertão ao litoral fugindo da fome.

Um novo produto foi lançado pelo canal pago GloboNews e hoje, às 19h30, ganha uma projeção de luxo no Cinema do Museu do Homem do Nordeste para os que confirmarem presença pelo e-mail globonews@teleeventos.com.br. Trata-se de uma investigação poética-jornalística chamada “Morte e Vida Severina: 60 anos depois”, dirigido por Gerson Camarotti e Cristina Aragão.

A premissa é simples, mas não tão fácil de realizar ou resumir. Os autores se lançaram, seis décadas depois que as palavras foram escritas pelo bardo pernambucano, seguindo o trajeto que teria feito o retirante do poema. Um trajeto que inicia no sertão, passa pela Zona da Mata pernambucana e segue até Recife, tendo o Rio Capibaribe como norte. A intenção, rever a paisagem geográfica mas, principalmente, rever a paisagem humana.

O percurso de 1,4 mil quilômetros foi realizado em duas semanas pelos diretores e sua equipe de três pessoas. Pontuando a paisagem e os rostos dos novos severinos que nos são apresentados, há uma narração do ator Jesuíta Barbosa dos poemas de João Cabral.

E o que vivem esse novos severinos? Os problemas questionados pelo programa aos diversos personagens partem do sofrimento narrado pelo personagem da literatura, mas encontram agora outra natureza de infortúnios. A decadência da Cana de Açúcar na Zona da Mata, e a poluição no lugar da seca dos rios causam as novas mazelas e tristezas. O trabalho infantil também já não há, uma vez que a lei os protege.

A juventude, à propósito, chamou a atenção da produção, que olhou com atenção como as novas tecnologias se fazem presente na vida dos jovens. Duas meninas entrevistadas, em particular, mostram um horizonte otimista. A primeira, de Ouricuri, é filha de cortadores de cana e se emociona com as dificuldades por conta da poluição. Seu sonho é ser médica, assim como outra jovem, que mora numa palafita a beira do Capibaribe no Recife.

Com estes novos severinos, Camarotti e Aragão atualizam um cenário que, como diz um de seus personagem, não deve mudar; sendo a questão central aqui a eterna capacidade desses severinos em adaptar-se para sobreviver.

ENTREVISTADOS – Foram entrevistadas 44 pessoas ao longo da jornada pelo sertão, da Zona da Mata e do Recife feito pela equipa da produção. Foram ouvidas pessoas de todas as idades e trechos do livro de João Cabral de Melo Neto estava sempre sendo lido para os severinos do caminho.

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