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Críticas

O Clã

Família unida

Por Luiz Joaquim | 10.12.2015 (quinta-feira)

Com estreia hoje no Brasil, “O Clã” (El Clan, Arg., 2015), de Pablo Trapero, está naquela categoria de filmes de língua não-inglesa o qual os EUA adorariam fazer uma versão hollywoodiana. Isso está tão claro para o mercado internacional que o filme não foi parar numa sala alternativa de cinema por aqui, mas sim nos multiplex do Pais, com distribuição da major Fox Film.

A questão é que este novo filme de Trapero (de “El Bonaerense”, “Leonera”, “Abutres”, “Elefante Branco”) não é envolvente apenas pelas cenas de tensão e ação inteligente, mas também por apresentar um roteiro absolutamente intrincado com a própria história da Argentina.

Assim sendo, se um dia houver uma refilmagem gringa, o leitmotiv de “O Clã” seria necessariamente modificado, e só por isso ele perderia muito de sua força.

No enredo criado pelo bonaerense Trapero – eleito melhor direto por “O Clã” no último festival de Veneza – não há como desassociar o que vemos no filme sendo praticado pela família Puccio na primeira metade dos anos 1980 (um caso real) com o histórico do governo ditatorial vivido pelos argentinos até os anos 1970 quando, estima-se, foram realizados 30 mil seqüestros pelos militares.

É o patriarca da família Puccio, Arquimedes (Guillermo Francella, em performance assustadoramente envolvente) quem ainda comanda com mão de ferro seqüestros numa época em que o Pais está ainda se reestabelecendo na democracia. No caso, as razões dos seqüestros não são mais políticas, mas sim para extorquir dinheiro.

Para tanto, Arquímedes nem mesmo poupa conhecidos de longa data, ou amigos endinheirados do filho Alejandro (Peter Lanzani), uma espécie de estrela nacional do rugby no Pais, a quem o pai doutrinou desde jovem para atuar violentamente nos seqüestros.

O que há de mais bizarro na história, entretanto, é que Arquímedes faz de sua própria casa, num bairro popular, o cativeiro onde tortura as vítimas enquanto aguarda o resgate.

No início do filme Trapero faz desse ambiente esquisito – onde o patriarca vive com a esposa, e mais um filho e duas filhas mais jovens que Alejandro – um lugar onde o espectador não consegue compreender que tipo de relação o pai mantêm com sua família. Até onde vai a clareza dos adolescentes sobre o que acontece no sótão da casa, com pessoas batendo e gritando de dor e por socorro.

Há, paralelo a essa tensão, o gradual envolvimento de Alejandro com aquela que poderia ser a mulher de sua vida (a linda Stafanía Koessl) e seu crescente incômodo para onde sua vida está sendo levada sob o comando de seu pai.

Amarrado numa composição de montagem sofisticada, logo envolvente, ao mostrar os seqüestros Trapero contrasta a violência com uma trilha sonora pop e feliz, própria da época, como a que faz tocar – “I`m Just a Gigolo”, de David Lee Roth – enquanto um mulher é torturada. São sacadas que só alguns mestres possuem.

ATOR – Envelhecido, com os cabelos e sobrancelhas embranquecidas, quase sugerindo a ideia de um nazista alemão, o ator Guillermo Francella dá um espetáculo de atuação. E saber que ele é conhecido como cômico na Argentina só aumenta a admiração por seu trabalho em “O Clã”.

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