Estava tudo certo até às 11h21 de anteontem (28). O mais importante lançamento do cinema no Brasil em janeiro de 2016 seria o filme a inaugurar a programação normal do cinema São Luiz, atualizado há dois meses com o novo equipamento de projeção digital DCP. Foi quando a distribuidora responsável pelo filme no Brasil voltou atrás e comunicou ao programador da sala, Geraldo Pinho, que apesar de entender a política do espaço, não poderia disponibilizar o filme com “um custo de ingresso inferior a R$ 15”. O ingresso do São Luiz será R$ 10 e R$ 5 (meia).

As aspas são de Geraldo, que vinha negociando a estreia há uma semana. A distribuidora, inclusive, havia antes divulgado à imprensa especializada sua planilha de salas a projetar o filme. Nela, constava o São Luiz sendo a sala 117 de um total de 223 no País. Já havia chegado também ao palácio na rua da Aurora, com seus 992 lugares, os cartazes do filme e seu trailer para trabalhar a divulgação do lançamento.

O assunto tornou-se público pela postagem ontem do cineasta e co-curador do Cinema da Fundação/Museu Kleber Mendonça Filho pelo Facebook, quando ainda pela manhã comemorava o bom trabalho de programação de Geraldo Pinho. “A distribuidora foi bastante profissional em todos os aspectos, mas há uma interferência do mercado que não está preocupada em formar público em salas como o São Luiz ou o Cinema da Fundação e do Museu”, refletiu Geraldo.

Na rede social, Mendonça Filho também pontuou, e falou aoCinemaEscrito: “Estamos num momento novo. Salas públicas e formadoras de plateia no Recife são hoje superiores em tecnologia (projeção 4K, sistema de som de qualidade maior) e com personalidade mais definida do que salas comerciais. E isso foge totalmente do roteiro, pois o mercado e até mesmo uma parcela do público acredita que salas independentes são necessariamente precárias e com programação de reprises. Quando isso não ocorre, há uma sensação de ameaça e a maneira de neutralizar isso é usando ferramentas de intimidação via mercado, para que filmes não cheguem a esse circuito. Isso é nocivo a uma ideia de diversidade e escolha para o público”.

Com o cancelamento do principal filme no inaugural circuito do São Luiz, Geraldo vai começar a buscar uma alternativa na segunda-feira (04/01). Há, entretanto, outros títulos já confirmados para as sessões que começam na quinta-feira (07/01). Um deles é o excelente e impactante colombiano “A Terra e A Sombra” (La Tierra y la Sombra), de César Augusto Acevedo, premiado em Cannes 2015, e exibido por aqui na mostra Expectativa/Retrospectiva da Fundaj.

Com um drama denso que poderia acontecer na Zona da Mata pernambucana, “A Terra e A Sombra” acompanha o drama de uma família mobilizada para manter seu sustento uma vez que o filho provedor sofre com um doença respiratória gerada pela “neve negra”, ou seja, as constantes cinzas produzidas pela queima da cana-de-açúcar na região.

O São Luiz exibirá também o documentário “O Fim e Os Meios”, de Murilo Salles, sobre os bastidores de um publicitário político em Brasília e sua luta diária para manter sua família entre novos conflitos. “Estamos concluindo a negociação de um terceiro filme. É o infantil -Hotel Transilvânia 2-. Este é o seguimento do São Luiz que melhor dialoga com a calçada. As crianças passam, veem o cartaz do filme e puxam a barra da saia da mãe”, diz Geraldo. “Vou trabalhar para as pessoas entrarem no São Luiz, inclusive para verem filmes legendados”, concluiu, respirando fundo para o desafio que lhe aguarda.

GRADE – Na estrutura da programação, com sessões diárias (exceto segunda-feira, fechado), as estreias no São Luiz acontecerão sempre às quintas-feiras. Serão quatro sessões por dia, quatro filmes diferentes, iniciando com um infantil por volta das 14h (e mais uma matinê às 10h no domingo). A última sessão encerrará por volta das 22h. O ingresso toda terça-feira é promocional, ao valor de R$ 6 R$ 3. Nos outros dias, R$ 10 e R$ 5.