A Grande Aposta
Decifra-me, se for capaz
Por Luiz Joaquim | 14.01.2016 (quinta-feira)
Atenção. Aqui está um dos mais radicais filmes para ser acompanhado em toda sua complexidade de informações já feito por Hollywood. Chama-se “A Grande Aposta” (The Big Short, EUA, 2016) e traz no elenco estrelas como Steve Carrell, Christian Bale, Ryan Gosling, Marisa Tomei e Brad Pitt, este também como produtor aqui.
Mas ninguém precisa sentir-se menos inteligente por isso. O próprio “A Grande Aposta” fala direto ao espectador, com o personagem de Gosling (Vennett) discursando para a câmera que, para entendermos as diversas situações que acabam de ser dramatizadas para nós, elas serão novamente explicada, mas desta pelas palavras de uma loira bebendo champanhe numa banheira, ou um por um chef de cozinha enquanto prepara um prato, ou pela cantora Selena Gomez, enquanto joga em Las Vegas.
Na verdade, o que “A Grande Aposta”, baseado numa história real, quer nos mostrar não é tão complexo assim. Seu “idioma” – o linguajar dos investimentos na bolsa de valores e financeiro – é que nós é inacessível. E é em decifrar isto que reside a beleza dessa produção ousada.
O filme mostra como alguns investidores perceberam, ainda em 2005, a iminente explosão da bolha financeira – gerada pela liberação de créditos hipotecários irresponsáveis (chamados subprimes) – que inflava nos EUA e que, de fato, estourou em 2008 afetando a economia no mundo inteiro.
O primeiro sujeito a enxergar que isso aconteceria tinha, ironicamente, apenas um olho. Ele é Michael (Bale, incrível!), o gerente de fundos de uma administradora que, com seu modo anti-social, decide investir contra o então crescente sistema imobiliário americano, apostando, contra a fé de todos que em dois anos sua empresa estaria por cima.
Entra no circuito Vennett, ora ajudando o espectador enquanto conduz a ação como a um documentário didático, ora sendo personagem atuante do enredo no qual ele é um corretor que seduz Baum (Carrell), o dono de outra corretora. Vennett faz Baum enxergar que as operações no setor imobiliário que os bancos faziam para lucrar não iriam se sustentar por muito tempo. Com Vennett, Baum vai atrás de operações CDS comprando barato para depois vender caro.
Baum, entretanto, é também a voz da consciência aqui. Como testemunha silenciosa da catástrofe que se aproximava – seis milhões de americanos viriam a perder suas casas -, Baum titubeia em suas ações. Assim o é também o investidor experiente e recluso Ben (Pitt), que volta a ativa para ajudar dois iniciantes em sua área (Finn Wittrock e John Magaro). Eles querem tirar proveito do Armageddon econômico que se aproxima.
Ao final, “A Grande Aposta” empolga, mesmo que o espectador possa escorregar em alguma vital informação gritada a cada dez minutos na tela. Mas, alicerçado por um roteiro e direção incríveis (ambos de Adam McKay), e com o talento do elenco que o representa, o filme surge como uma força da natureza sobre um monstro invisível e tão feroz que criou suas próprias defesas para nunca ser visto. Com “A Grande Aposta” o monstro ao menos ganha um rosto.
LIVRO – Em 2010, o analista financeiro Michael Lewis lançou “The Big Short: Inside de Doomsday Machine” (que deu origem a “A Grande Aposta”). O livro virou um best-seller uma vez que todos queriam saber porque a catástrofe econômica de 2008 não fora prevista. No mesmo 2010, Foi lançado nos EUA o documentário “Trabalho Interno” (Inside Job) fazendo as relações necessárias para entendermos o processo da crise.
0 Comentários