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Críticas

Spotlight: Segredos Revelados

Um roteiro incrível sobre uma história incríve

Por Luiz Joaquim | 08.01.2016 (sexta-feira)

“Spotlight: Segredos Revelados” (Spotlight, EUA, 2015), filme de Tom McCarthy que estreou ontem no Brasil é um dos fortes concorrentes ao prêmio de melhor roteiro na cerimônia do 73º Globo de Ouro, que acontece neste domingo (10) em Los Angeles. A produção deverá também figurar na festa do Oscar, dia 28 de fevereiro.

Mas por que destacamos especificamente o prêmio de roteiro (no Globo de Ouro ele também concorre pela direção e como melhor filme)? É que o texto escrito a quatro mãos – duas de McCarthy e mais duas de Josh Singer – consegue aqui, numa só tacada, e em pouco mais de duas horas de projeção, apresentar com sedução e fluência ao espectador dois assuntos bem complexos.

Um. A intrincada circunstância criminosa envolvendo a Igreja Católica em Boston (EUA), com um histórico de 90 padres cometendo abuso sexual contra crianças e sendo encobertados pela benção da arquidiocese local e de advogados influentes. E, dois, os procedimentos da investigação jornalística do grupo “Spotlight” – uma equipe específica dentro do jornal “Boston Globe” para reportagens especiais – que desbaratou e tornou público tais crimes no ano de 2001.

Aqueles que admiram a prática do jornalismo investigativo e tem como referência cinematográfica máxima o clássico “Todos os Homens do Presidente” (1976), de Alan J. Pakula, devem reservar uma poltrona no cinema mais próximo para, a partir de “Spotlight”, se deleitar com mais um caso que nasce de uma pequena informação de um fonte desacreditada e que, pela ótica de um jornalista experiente (e habitualmente desacreditado), vai desenhando-se a partir dela um cenário assustador com cada grão de informação que é apurado.

McCarthy e Singer calcularam e distribuíram pelo roteiro não apenas os pontos vitais dessa história investigada por mais de um ano pela equipe do Boston Globe – para depois ir amarrando-os -, mas também desenvolveram personagens, situações e ambientes críveis de uma redação de jornal.

O que, entretanto, lhes é um trunfo na verossimilhança – muita informação coerente sobre o específico universo da imprensa – pode soar como complicador para o público mediano. Quero dizer, aquele espectador mal habituado e que não consegue processar uma história no cinema com mais de meia duzia de personagens.

Em “Spotlight” o desenho da dramaturgia passa por, talvez, 15 personagens importantes, incluindo a hierarquia de um jornal, com suas competências e subordinações (incluindo as piadas entre elas), pela inter-relação da Igreja com a política da cidade, e pelas questões éticas da advocacia. Há ainda, claro, o envolvimento pessoal dos jornalistas com aquilo que apuram. Pois, embora alguns duvidem, eles também são humanos.

PREMIADO – O grupo de jornalistas investigativos “Spotlight” do Boston Globe recebeu a maior honraria do jornalismo pela reportagem feita em 2001 em Boston. Foram contemplados com o Prêmio Pultizer pelo trabalho.

RECORRÊNCIA – A atriz Rachel McAdams interpreta em “Spotlight” uma das integrantes do grupo de jornalistas investigativos. É seu terceiro papel na carreira como jornalista. Apareceu assim em “Intriga de Estado” (2009) e “Uma Manhã Gloriosa” (2011).

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