A Ovelha Negra
Reconciliação pela propagação da espécie
Por Luiz Joaquim | 17.02.2016 (quarta-feira)
O Recife pode, a partir de amanhã (18), ver (no Cinema do Museu) o vencedor do prêmio da Mostra Un Certain Regard na edição 2015 do Festival de Cannes. Vem da Islândia e chama-se A Ovelha Negra (Hrútar, 2015), de Grimur Hákonarson.
Ao espectador brasileiro, principalmente o urbano, pode parecer um tanto estranha a relação que fica estabelecida logo de início entre os habitantes do pequeno vale na zona rural islandesa, onde se situa a história, com as suas ovelhas. Mas, considerando-se o isolamento e a solidão dos espaços largos, que ilustram inclusive a primeiríssima imagem que surge na tela, fica mais fácil compreender o apego daqueles homens aos seus animais.
A primeira tensão em A Ovelha Negra estabelece-se quando vemos Gummi (Siguraur Sigurjónsson) inconformado não por ter ficado em segundo lugar no concurso anual de ovelhas do vilarejo, mas por ter perdido o primeiro lugar para o animal do irmão, Kiddi (Theodór Júlíusson), com quem não fala há 40 anos.
Desconfiado que o premiado animal do irmão pode estar infectado com um fulminante vírus chamado scrapie, que comprometeria todas as ovelhas do vale, Gummi acaba por desencadear uma investigação sobre o assunto, o que o afasta ainda mais de Kiddi, com seu temperamento mais estourado.
Todo A Ovelha Negra segue mostrando o quão inconciliáveis são os dois irmãos, em função de uma questão do passado (há 40 anos!) que o espectador nunca irá saber. Morando um numa casa vizinha a do outro, eles nem sem comunicam para pedir ajuda. Usam o cachorro de Kiddi para entregar bilhetes, como se um pombo correio fosse.
O que os afastou no passado, na verdade, nem importa, porque para onde o enredo nos leva lenta, cuidadosa e prazerosamente é para um desfecho tocante, próprio da situação do desespero. É lá onde um amor maior (as ovelhas) irá finalmente reunir os dois e fazê-los cuidar um do outro como só irmãos cuidam.
E se alguém está impressionado com a performance de Leonardo DiCaprio no inverno canadense mostrado em O Regresso, talvez fosse interessante ir conferir Sigurjónsson e Júlíusson enfrentando o gélido inferno islandês.
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