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Críticas

O Regresso

No limite, mas com belos planos-sequência

Por Luiz Joaquim | 04.02.2016 (quinta-feira)

Há dez anos, desde que rompeu com o roteirista Guillermo Arriaga – a última parceria foi com Babel (2006) -, o diretor e roteirista mexicano Alejandro González Iñárritu vem procurando superar-se a cada novo filme que despeja no mundo via Hollywood. Mas, superar-se em que? Esta seria a boa pergunta a ser feita.

Com seus Biutiful , 2010, Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância), 2014 – vencedor de quatro Oscars, incluindo melhor filme -, e agora com O Regresso (The Revenant, EUA, 2015), indicado ao exagero de 12 Oscars -, Iñárritu mostra que busca versatilidade temática e estética a cada novo trabalho mas, ao mesmo tempo, fica a impressão, vendo-se os filmes, que a tal busca pela versatilidade sobrepõem-se ao filme em si.

Pensando bem, o tema gira em torno de um mesmo plot. A tentativa da superação individual de um homem diante de uma nova adversidade que se lhe apresenta. Seja ela física e/ou psicológica.

Se em Biutiful o protagonista precisa resolver a vida de todos ao redor, até descobrir uma doença nele próprio e daí rever seus valores, em Birdman o nosso herói também tenta a redenção pela arte para superar uma crise existencial.

Com O Regresso, a adversidade esta na natureza em si. Contra ela, em gélidas montanhas canadenses no século 19, luta o caçador Glass (Leonardo DiCaprio). O elemento novo aqui é a motivação: vingança.

Ou seja, sua superação deve ser alcançada para que Glass chegue e mate aquele (Tom Hardy) que destruiu o que Glass contava como mais valioso em sua vida, além de tê-lo abandonado à própria sorte em meio a natureza selvagem. Com o detalhe de que Glass estava a beira da morte por ter sofrido o ataque de um urso gigante.

A propósito, o grande chamariz de público de O Regresso diz respeito a tal sequência do ataque do urso. De fato, nunca pára de surpreender a capacidade que a indústria do cinema norte-americana tem em nos convencer sobre a verossimilhança da fantasia virtual a qual somos por eles submetidos.

A tal sequência possui um grau de realismo quase sádico, típico de um registro documental, que quer mostrar realmente de que maneira se dá o ataque de um urso de meia-tonelada contra um homem de 90 quilogramas.

Por esse aspecto, O Regresso revela-se sedutor, considerando a morbidez que algumas curiosidades guardam. Mas, ao mesmo tempo, a sequência serve como uma bela síntese que representa aquilo a que o filme, em toda sua extensão e proposta discursiva, está interessado. Que é espetacularizar o limite da dor física humana.

Há também por esse viés, numa perspectiva negativa, a espetacularização do plano-sequência (que o registro de diversas ações numa sequência única de filmagem, sem cortes). No filme, o plano-sequência é utilizado quase como um fetiche por Iñárritu, quando tal recurso parece mais interessado em chamar atenção para si de que para a ação que registra.

Dessa forma, O Regresso resume-se quase a um episódio de teleprograma de reality show como No Limite (só que com travellings sofisticados), e seus derivados. E, ainda por essa lógica, o novo filme de Iñárritu cumpre sim uma das funções de um filme atraente, que é manter a atenção de seu espectador constantemente ligada. Mas, por um dispositivo, podemos dizer, básico de um reality show televisivo, que seria fazer o espectador mentalmente perguntar-se: “e agora, qual será seu próximo desafio?”

Claro que, diferente de um produto para a tevê, temos aqui uma incontestável bela fotografia do também mexicano Emmanuell Lubezki (fiel parceiro de Iñárritu) e uma dramaturgia potencialidade pela performance dedicada de DiCaprio.

Esta também já é uma grande referência mercadológica para O Regresso. A do filme que pode, concretamente, dar o primeiro Oscar ao ator, nesta que é sua quinta indicação para receber a estatueta dourada .

A performance de DiCaprio, no filme de Iñárritu, pode ser resumida a um momento específico que o ator encenou num filme muito mais rico, chamado O Lobo de Wall Street (2013), de Martin Scorsese. Para quem o viu ali é fácil lembrar da sequência em que seu personagem, Jordan Belfort, dopado, arrasta-se pelo chão até chegar ao seu carro.

Em O Regresso o Glass de DiCaprio repete essa mesma performance, só que por cerca de 60 minutos.

Alguns vêm acrescentando como mérito pelo seu trabalho aqui as péssimas condições climáticas da locação isolada que são vistas no filme. Com um real clima inóspito e temperaturas gélida. Mas seguir por esse critério é o mesmo que dizer para um crítico gastronômico avaliar o sabor da comida servida levando em conta a decoração da cozinha onde ela foi preparada.

11 indicações ao Oscar
Filme
Ator – Leonardo DiCaprio
Ator coadjuvante – Tom Hardy
Direção
Fotografia
Montagem
Direção de arte
Figurino
Maquiagem
Mixagem de som
Edição de som
Efeitos visuais

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