Voando alto
Pulando de um sonho secreto para o mundo real
Por Luiz Joaquim | 31.03.2016 (quinta-feira)
Como é bom ver um filme em que o ator tem seu espaço garantido na mesma proporção dos outros elementos, mesmo que estes elementos sejam a força da natureza por montanhas de neve na Alemanha. Voando alto (Eddie the eagle, GB, Ale., EUA, 2016), de Dexter Fletcher, cumpre esse papel bem, principalmente por fazê-lo de modo discreto.
Ter Fletcher a frente do projeto explica um pouco a atenção dada ao protagonista Eddie Edwards – figura real que encantou o mundo nas Olimpíadas de Inverno no Canadá em 1988 -, aqui tão bem defendida na fase adulta do personagem pelo ator Taron Egerton (de Kingsman).
Fletcher foi ator. Tem 98 créditos na área e começou cedo na carreira, tendo figurado em hoje clássicos do cinema britânico como Bugsy Malone(1976); O homem elefante (1980); Revolução (1985); e Topsey-Turvy(1999), entre outros.
Há ainda outro elemento bastante atrativo em Voando alto, e aí o mérito é da real persona e origem do herói Eddie. Originado numa família simples na Inglaterra, filho de um gesseiro, Eddie, desde criança, quando ainda precisava ir por um ano inteiro ao hospital para curar um problema no joelho que não lhe permitia andar sem muletas, tinha como sonho ser um atleta olímpico.
Na introdução rápida (e precisa) do filme, já entendemos que o desejo do menino Eddie era algo mais que a birra de um moleque, tendo o acompanhado até a vida adulta. Não era uma birra, enfim, mas sim a determinação, quase uma vocação, que só atletas (e não apenas os do esporte) possuem.
Bem ao estilo daquilo que Rocky Balboa inaugurou no mundo do cinema há 40 anos – e diversos outros filmes o seguiram -, ou seja, a luta incansável de um desacreditado atleta para alcançar um sonho, Voando alto apresenta isto aqui em novos termos.
O atrapalhado e destemido Eddie, com seus óculos de lentes grossas escorregando para a ponta do nariz, com seu proeminente queixo e seu ar de bobo só quer ir às Olimpíadas, representar seu país. Superar a si mesmo, e não aos outros.
É uma maneira nova de apresentar o espírito Olímpico. Ou melhor, corrigindo, é uma maneira velha, já que a famosa citação do século 19, dita pelo idealizador dos Jogos Olímpicos da era moderna, o Barão de Coubertin, Pierre de Frédy, é bastante lembrada no filme – “O importante não é vencer, mas competir”.
Esse espírito autêntico de Eddie, a Águia – o filme explica o famoso apelido -, acaba contagiando o sisudo universo dos Jogos Olímpicos de Inverno, pelo qual Eddie pretendia não ganhar uma medalha, mas conseguir um feito para si próprio, e que marcaria a história do salto de esqui na Grã-Bretanha.
Em apenas uma resposta solta por Eddie no filme, numa conversa ainda criança, entendemos a razão de tamanha obstinação. Quando lhe é perguntando por que ele insistia nisso de “voar”. Eddie respondia: “é porque eu não consigo andar”.
Não é só pela sua obstinação de Eddie que Voando alto conquista o espectador. É também por sua graça, e pelo ritmo azeitado do filme. O atleta britânico – muito bem incorporado por Egerton – é aqui apresentado quase como um Chaplin, mas sem a malandragem do mesmo. Eddie é um ingênuo que acredita em todos e, mesmo sendo vilipendiado, persiste no sonho.
Sonho que conquista até aquele que o filme mostra como o mais descrente dos atletas da área. O ex-saltador olímpico Bronson Peary (Hugh Jackman), que se entregou ao álcool apos frustrações no passado.
Mas Eddie é o foco aqui, com sua simpatia e determinação que inspiram. Aqui sempre embalado ao som de uma animada música dos anos 1980, incluindo Frank Goes to Hollywood, Daryl Hall & John Oates, além de, no caso, o inevitável Van Halen com sua Jump.
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