Aquarius, de Kleber Mendonça Filho, em Cannes
O Brasil está na competição 2016 oficial do maior festival do mundo
Por Luiz Joaquim | 14.04.2016 (quinta-feira)
Aquarius…. se ainda não leu esse nome na mídia cultural do País, vá acostumando. Até março de 2017, pelo menos, você irá ouvi-lo bastante. Este é o título do segundo longa-metragem de ficção dirigido por Kleber Mendonça Filho (de O som ao redor). O leitor o ouvirá de forma constante e em todos os veículos de comunicação, sejam culturais ou não.
Parece arriscada essa previsão? Pois bem. Aquarius irá nascer em alguma data entre 12 e 22 de maio próximo (abertura será no dia 11, com Café Society, de Woody Allen). Nascerá em berço de ouro, no centro do mundo. A produção foi selecionada para configurar na mostra oficial, na competição oficial, competindo pela Palma de Ouro na 69ª edição do Festival de Cannes.
Pierre Lescure, presidente do Festival, e Thierry Frémaux, seu delegado geral, encerram o anúncio às 6h47 (hora do Brasil) de hoje, na França, sua seleção oficial 2016.
Com Aquarius, que é seu terceiro longa – o primeiro foi o documentárioCrítico, (2006/2008) –, Mendonça Filho aparece na programação francesa ao lado de realizadores como Pedro Almodóvar (Julieta), Jim Jarmusch (Paterson, sobre Iggy Pop), os irmãos Dardenne (La fille inconnue), Olivier Assayas (Personal shopper), Sean Penn (The last face), Cristi Puiu (Sieranevada), e Nikolas Winding Refn (The neon demon) entre outros.
Na sinopse divulgada para Aquarius, “Clara (Sônia Braga), 65 anos de idade, é uma escritora e crítica de música aposentada. Ela é viúva, mãe de três filhos adultos e moradora de um apartamento repleto de livros e discos no bairro de Boa Viagem, Recife, num edifício chamado Aquarius”.
Ao lado de Sônia Braga, atuam Irandhir Santos, Maeve Jinkings, Carla Ribas, Julia Bernat, Humberto Carrão, Germano Melo e Rubens Santos entre outros.
As filmagens de Aquarius encerraram em setembro. Isso significa que, ao contrário de como foi em seu filme anterior, o trabalho de edição aqui foi mais rápido (com O som ao redor, Kleber depurou a montagem por cerca de 12 meses).
O “pouco tempo”, entretanto, parece não haver prejudicado o resultado da nova obra, se considerarmos o passaporte que o realizador recebeu hoje (14) para Cannes.
Estar em Cannes
Estar numa lista cobiçada como a de Cannes, ainda mais na competitiva oficial, é um privilégio para poucos. O clube é restrito exatamente por aquele espaço ser fruto de um luxo construído ao longo de sete décadas, no qual um misto de rigor curatorial encontra a fúria dos holofotes de toda a mídia mundial.
Cannes é o marco zero do cinema. Todos os anos o réveillon cinematográfico acontece em maio. Para um filme, estrear em Cannes significa chegar ao mundo com metade dele aos seus pés.
Naquele espaço onde circulam em duas semanas quase 11.000 agentes do mercado internacional de cinema, além de outra dezena de milhares de jornalistas da mídia especializada (e a não especializada) repercutindo até o espirro dos convidados, se um filme vai bem na sua primeira exibição por lá – nem precisa ser premiado -, ele terá sua história reverberando por ao menos um ano, no circuito exibidor mundial.
Isso significa distribuidores internacionais disputando a atenção da produtora Emilie Lesclaux para comprar os direitos de distribuição deAquarius e usá-lo em seu país de origem.
No Brasil, o filme já chegará batizado com o nobre selo que estampa a palma símbolo do troféu do festival, aparecendo na tela antes da primeira imagem em movimento a ser mostrada pelo filme.
Se considerarmos que receba alguma premiação, ou simplesmente caia nas graças de um influente veículo midiático norte-americano, sua sugestão pelo Ministério da Cultura como representante do Brasil para concorrer a uma vaga ao Oscar, em fevereiro/março de 2017, é quase certa.
Mas, para tanto, o filme terá de estar apto. Ou seja, precisará ter estreado no circuito exibidor em seu país e em território norte-americano até dezembro próximo.
Aquarius, enfim, deverá começar a partir de hoje uma jornada incessante de movimento ao redor do mundo até sua última projeção em algum cinema, em algum país que não saberíamos nem adivinhar agora, ou até pronunciar seu nome corretamente.
A tal jornada de trabalho incessante inicia partir de agora, já já, quando a mídia brasileira começar a disparar telefonemas a Kleber Mendonça Filho para lhe perguntar “Como recebeu a notícia?”, “O que espera do Festival?”, “Em que estágio está o filme?”, “Qual seus próximos passos?”, “Qual a importância de Cannes?”, etc, etc, etc.
E mais. Ao chegar no dia da exibição, Mendonça Filho deverá estar acompanhado de uma dama do cinema brasileiro chamada Sônia Braga.
Seu respaldo, mundial, tem em Hollywood a lembrança dos Globo de Ouro que concorreu como coadjuvante em 1985 e 1988, respectivamente, por O beijo da mulher aranha, de Hector Babenco, e Luar sob o Parador, de Paul Mazursky.
Na França, é lembrada por Cannes, quando passou ali como atriz nos filmeEu te amo (1981), de Arnaldo Jabor, o de Babenco em 1985, como júri na edição de 1986, em Rebelião em Milagro (1988), de Robert Redford, e em 2004 pela exibição em versão restaurada de Dona flor e seus dois maridos(1976), na mostra Cannes Classics.
Será, portanto, um belo momento para a atriz, tornando alvo dos flashs e dos comentários de pensadores do cinema do mundo inteiro, como seu talento bem merece.
Que venha Aquarius.
Mais Brasil
Selecionado para a mostra oficial, aparece João Paulo Miranda com seu curta A moça que dançou com o diabo. Fernando esteve ano passado em Cannes, na Semana da crítica, com o filme Command action.
Prêmios na seleção oficial em Cannes
– Palma de Ouro (melhor filme)
– O Grande Prêmio (filme mais original ou pelo espírito de pesquisa)
– Interpretação feminina
– Interpretação masculina
– Direção
– Roteiro
– Prêmio do Júri
Na seleção oficial com a mostra Un certain regard, Quinzena dos Realizadores e Semana da Crítica
– Câmera de Ouro (melhor primeiro filme)
– Troféu Chopard (melhor performance revelação)
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