Ex-Machina: Instinto Artificial
Uma breve observação sobre um filme que não veio para ser breve
Por Luiz Joaquim | 09.04.2016 (sábado)
No instigante filme Ex-Machina: Instinto Artificial, de Alex Garland, há uma subversão no modo de representar a sensualidade feminina se considerarmos um padrão masculino socialmente estabelecido há já mais de uma centena de anos.
No caso, a androide Ava por não ter pele em seu corpo – além daquela que cobre e molda apenas as mãos, os pés, e seu belo rosto – identificado com a face da atriz Alicia Vikander (você a viu ganhar um Oscar por A Garota Dinamarquesa – ela, Ava, se veste de roupas simples e põe uma peruca discreta para se tornar humanamente atraente ao seu único interlocutor masculino (Domhnall Gleeson) aqui neste filme.
A cena é registrada com rigoroso cuidado.
Empresta beleza não ao despir, mas ao vestir.
Nesse strip-tease às avessas, em movimentos encantadores dessa maquina delicada, instalada sob a forma de um corpo frágil e feminino, Ava em sua atitude nos confronta com outro padrão de sedução, ou melhor, um já antigo, que é o de esconder, e não o de escancarar. Um “escancarar” que vem sendo cultivado no mundo contemporâneo com cada vez mais pobreza.
A relação amigável-amorosa que vemos ser construída entre homem e um protótipo de mulher em Ex-Machina, e sintetizada nessa sequencia, denota com bastante sutileza, entre tantas reflexões, que há sim algo belo que atrai os seres e que essa beleza pode uni-los, transcendendo o instinto sexual.
Ava, a robô que pensa, um pouco mais humana com suas roupas simples, comove seu interlocutor masculino, aqui paradoxalmente, por uma postura historicamente feminina.
Ela embeleza-se.
Mas não para resguarda uma outra beleza a ser desvelada num futuro possível, e sim para expandir e estender aquilo que já se conquistou com o outro por um cumplicidade própria de dois seres que já enxergam-se iguais.
É lindo.
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