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Festivais

20º Cine-PE (2016) – noite 3 – longa

Guerra do Paraguay

Por Luiz Joaquim | 05.05.2016 (quinta-feira)

A noite de quarta-feira (4) viu o terceiro longa-metragem em competição do 20o Cine-PE: Festival do Audiovisual. Dirigido pelo olhar apurado do veterano Luiz Rosemberg Filho – provavelmente pela primeira vez no evento recifense – Guerra do Paraguay deu um outro e bem vindo tom à competição.

Conhecido pelo posicionamento firme e politicamente combativo, usando imagens de arquivos impactantes para compor seu discurso, Rosemberg aqui criou uma ficção com narrativa mais clássica que nos leva ao lado de uma trupe de teatro mambembe que no seu caminho encontra um orgulhoso soldado (Alexandre da Costa) saído da Guerra do Paraguai (1864-1870).

A primeira coisa a ser dita é que o cinema de Rosemberg não é para amadores. Em seu discurso aqui, o realizador incorpora Bertold Brechet, Molière, Nietzsche, Shakespeare, Jean Jack Rousseau e, olhem só, Ingmar Bergman, pelo seu O sétimo selo. O húngaro Béla Tarr, com seu O Cavalo de Turim (co-dirigido por Agnes Hranitzky) também pode ser reconhecido.

E ainda, já na abertura de Guerra do Paraguay, Rosemberg salpica logo na tela a informação de que seu filme é dedicado a outros dois filmes: Dr. Fantástico, de Stanley Kubrick, e Tempo de Guerra, de Jean-Luc Godard.

Mas é o clássico absoluto do sueco que surge forte como uma estrutura de referencia para Rosemberg montar o embate de ideias entre o soldado e a principal atriz da trupe (Patrícia Niedemeier, ótima).

Se no Sétimo selo o cavaleiro das cruzadas esbarra também numa trupe circense que circula por uma Europa devastada pela peste e com eles discutem a validade da guerra e a brevidade/validade da vida, Rosemberg usa esse mesmo encontro entre artistas e um soldado para questionar a real razão da guerra, não apenas a do Paraguai, mas de qualquer guerra. O realizador quer saber o que leva o homem a matar um outro homem (ou vários). Em nome de que? E daí seguir vivendo com isso.

Enquanto o soldado apropria-se da razão para justificar seus argumentos, a artista vivida por Patrícia reivindica a emoção para expor o absurdo do que aquilo significa. Em textos e planos longuíssimo, e pesado, Patrícia, particularmente, ganhou um grande desafio, do qual sai não apena ilesa, mas vitoriosa.

As falas e questões são aqui densas e extensas, o que nos leva um tanto ao espírito do que se estabeleceu para uma performance teatral. Mas, emGuerra do Paraguay, Rosemberg e equipe encontra um equilíbrio interessante, fazendo o filme (e nosso interesse por ele) fluir.

Interessante observar que Rosemberg incorpora na discussão entre o soldado do século 19 e as atrizes mambembes questões contemporâneas, como a televisão (“uma caixinha de imagens”), o conceito de favela e a inserção de um rádio de pilha, que nos traz a melodia de Strauss para subverter a expectativa do espectador no final.

Em entrevista coletiva, Rosemberg contou que o roteiro do filme foi escrito há 15 anos, e encontrou espaço para ser realizado hoje, com os recursos mínimos de R$ 750 mil, graças ao particular interesse da Cavídeo, empresa do super-herói do cinema alternativo carioca, Cavi Borges.

“Procuramos fazer da escassez nossa qualidade”, pontuou Cavi, que adiantou estar produzindo o primeiro longa-metragem a ser dirigido pelo ator Chico Diaz, com o título A lua vem da Ásia.

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