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Críticas

Teobaldo Morto, Romeu Exilado

Um filme desinteressado pela obviedade familiar

Por Luiz Joaquim | 19.05.2016 (quinta-feira)

Segundo longa-metragem de Rodrigo de Oliveira, “Teobaldo Morto, Romeu Exilado” (Bra., 2015) tem um declarado discurso direcionado às relações familiares e à força desses laços obrigatórios que se quebrados podem gerar cortes e conflitos profundos no indivíduo. Lançado em janeiro de 2015 na Mostra de Tiradentes, o filme estreia no Cinema do Museu (Recife), que oferece debate com o diretor após a sessão das 19h de hoje (19/05).

Permeado por sutis referências cinematográficas (e não só elas) no filme levam a Pier Paolo Pasolini e a Carlos Reichenbach; e seu enredo também se apropria de figuras mitológicas que ajudam a amplificar a dimensão dramática vivida pelos protagonistas João (Alexandre Cioletti) e Max (Rômulo Braga).

Amigos no passado, João assumiu a vida do auto-exilado Max a ponto de ser confundido com ele pela mãe do segundo, e ter casado com sua namorada. Com João em retiro solitário numa casa interiorana isolada enquanto sua esposa na cidade está prestes a dar a luz ao primeiro filho do casal, Max ressurge anos depois de buscar as raízes na Croácia, período em que foi dado como morto pela família no Brasil. Com seu retorno, naturais cobranças colocam os antes amigos em conflito que os levarão a uma fusão indentitária no final.

A narrativa mais tradicional que esta breve sinopse sugere dá apenas uma pálida ideia do círculo dramático que é desenvolvido pela construção feita com as imagens criadas por Rodrigo. Sempre generoso com seus atores, o cineasta faz bom proveito não apenas da paisagem geográfica e selvagem nos arredores de Cachoeira de Itapemirim (no Espírito Santo) como também da geografia no rosto de seus atores.

A palavra, outro elemento importante no cinema de Rodrigo, para além de ajudar o espectador fornecendo dicas sobre o histórico da trama, tem seu maior valor em aproximar este mesmo espectador da confusão interna pela qual passam seus personagens. Ela, a palavra, também é vital para evitar que o rigor no tratamento formal do filme nos distancie dele.

Se no anterior “As Horas Vulgares” (2012), a trilha sonora parecia um natural elemento para o filme crescer em sua pós-vida fora da tela, “Teobaldo…” parece pedir uma leitura de seu roteiro, uma vez que a decupagem do filme surge precisa em seus belos planos, suscitando dúvidas sobre o quanto a ideia original da criação do diretor com sua equipe surgiu/mudou no set de filmagem.

Embalado pela sonoridade épica de Bethoveen, trazendo a figura de um arqueiro decidido a atingir um centauro e separar os “dois corações lastimáveis de um pesar que não há de se acabar” (citação do dramaturgo português Gil Vicente, 1465-1536, que abre o filme), “Teobaldo Morto…” fica como um trabalho que não está interessado em obviedades sobre a paternidade, a família e os amigos, mas sim nas outras formas de responsabilidades que estas relações maquiam.

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