11º Fest. Latino-SP (2016) – La última tierra
A finitude, pelos sons e super-closes de Pablo Lamar.
Por Luiz Joaquim | 22.07.2016 (sexta-feira)
SAO PAULO (SP) – O Festival de Cinema Latino-americano vem se consolidando não apenas como formador de espectadores, seja pelas sessões dedicadas nesta 11a edição à época de ouro do cinema mexicano, mas também revelador de uma rara produção de nossas nações vizinhas cujas obras raramente chegam ao Brasil (com exceção dos títulos vindo da Argentina, Uruguai e Chile).
Na noite de ontem (21), dentro da mostra ‘Contemporâneos’, o longa-metragem La última tierra (Par., Chi, Hol., Quatar, 2016) teve sua primeira projeção por aqui, no CineSesc, deixando uma amarga sensação de finitude ao apresentar a singela história de um velho (Ramón del Rio), em uma cabana isolada numa floresta, e que precisa despedir-se de sua recém-falecida esposa (Vera Valdez, de Meu amigo Hindu).
O filme é o primeiro longa do paraguaio Pablo Lamar, 32 anos. O realizador é conhecido pelos pernambucanos apos ter residido por uma temporada no Recife. Pablo é o responsável pelo desenho de som de O som ao redor, tendo também dirigido seus curtas, o tocante Ouço teu grito (2008) e Noche adentro (2009).
E é exatamente o som que pontua a narrativa de La última tierra . Premiado em fevereiro com uma menção honrosa no Festival de Roterdã (um dos mais importantes, assim como Locarno, para revelar talentos), o filme exibiu lá na mostra Bright future (Futuro brilhante). Lá, seu cinema foi comparado ao de Carlos Reygadas e Lisandro Alonso.
Com poucos planos, fixos e longos – mas pulsando vida por toda a extensão de sua duração -, o longa acompanha os movimentos do velho com super-closes cuja amplificação da imagem é colada à amplificação de micro-sons.
O tom é dado já em sua tomada de abertura na qual, da escuridão, vem a luz pela cabeça de um fósforo. A pequena chama em detalhe, com as inflexões sonoras combinadas ao seu tremular, já indica uma beleza trivial. Daquelas que estão cotidianamente em nossas vidas, mas raramente atentamos a elas.
A corporificação no filme dos quatro elementos naturais – fogo, ar, água, terra -, a propósito, parecem ter servido como roteiro para o jovem realizador orientar sua história e buscar seus sons.
Nesse sentido, ver La última tierra numa sala de cinema bem equipada e bem calibrada acusticamente se faz imperativo. Caso contrario não se terá visto (ouvido) o filme.
São raros os títulos pela qual a eloqüência do desenho de som é mais definidora que o próprio enredo. Na verdade, aqui o som é o principal narrador. E nessa narração, Pablo nos leva àquela floresta rica, mas triste no recorte que dá, em função de um velório.
A tomada fixa em que o velho trabalha numa cova é por si só dolorosa apenas pela sugestão do som violento dá pá. Na extensão de sua imagem, o espectador necessariamente pensa no destino que lhe aguarda. Que aguarda a todos. Trágico, triste e belo.
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