Caça-fantasmas (2016)
Política e corretamente “desengraçado”
Por Luiz Joaquim | 14.07.2016 (quinta-feira)
Vamos começar por aqui. Um filme é um produto de seu tempo (como também o é este texto). Assim sendo, ainda que Caça-fantasmas (Ghostbusters, EUA, 2016), de Paul Feig, não fosse uma refilmagem de um homônimo clássico juvenil de 1984, a nova superprodução da Columbia Pictures – estimada em US$ 154 milhões – já valeria atenção.
Não pelas suas qualidades cinematográficas – pelo contrário, pois elas penam para dar sinal de vida em seus 116 minutos de duração -, mas por mostrar-se uma das mais perfeitas expressões do que seria um típico produto de Hollywood dos dias de hoje, pautado por um humor que sofre, debatendo-se dentro de uma camisa de força cuja estampa no peito tem escrito: “politicamente correto”.
Daí a delicadeza em apontar tantos problemas escancarados num filme que foi embalado e amarrado por um laço colorido de boas intenções sociais. Ainda assim, o tiro sai pela culatra, pois preconceitos sexistas são reforçados aqui, só que de maneira enviesada. Talvez o mais óbvio esteja no personagem de Chris Hernsworth (o Thor do cinema). Ele é o secretário louro, lindo e burro das novas caça-fantasmas. Tem como função exclusiva ser um atrativo visual ao espectador e passar-se por um limitado mental sugeridamente engraçado (mas falho).
Ao final, não há como a pobreza do humor e a energia de muletas que cambaleia numa obra como esta, que se propunha a dar uma moderna e dinâmica roupa para uma referência da comédia de ação dos 1980, ser relevada por uma avaliação isenta.
Em poucas palavras: aquele que defender cinematograficamente, repetindo, cinematograficamente, este filme, de forma específica por sua iniciativa em dar o protagonismo que era originalmente de homens às mulheres talvez não perceba que tal estratégia política – repetimos, particularmente neste Caça-fantasmas – não foi exatamente benéfica por uma questão básica. Nada se salva (exceto, talvez, pela piada do xingamento com o dedo-médio).
E não estamos a falar das atrizes, mas da cilada (esta produção) em que elas foram metidas. Há de se considerar, entretanto, que temos Kristen Wiig (como a cética Erin, no papel que seria equivalente ao de Bill Murray no original) e Melissa McCarthy (Abby, no equivalente ao que foi Dan Aykroyd) rolando num cansativo esforço para nos soarem engraçadas em seus personagens.
Mais relaxadas estão Kate McKinnin (cujo ano do nascimento é o mesmo do filme original, e interpreta a inventora Holtzmann, cujo ator no velho filme foi Harold Ramis) e Leslie Jones (como a funcionária do metrô, Patty, o que foi Ernie Hudson no filme anterior).
Algumas relações com a década de 1980 chegam a ser tão gratuitas no novo filme que constrangem, como a música pra embalar a dancinha de Holtzmann enquanto trabalho num numa de suas máquinas de capturar fantasmas.
Cansam também, no roteiro, o excesso de explicações científicas das heroínas para contextualizar seus planctos-electro-espectros-nebuloso-optico-gama-fásico-sei-lá-o-que para falar de um fantasma.
Não menos desastrosa é a opção estética deste Caça-fantasma que, ao chegar ao final, submete seu espectador a cerca de 15 minutos de uma batalha de raios coloridos que seria a solução perfeita para uma agência publicitária que quer vender tevês com tecnologia 4K.
Do ponto de vista criativo, é tudo tão raso, pobre e entediante que faz estes novos “pujantes” anos de 2015/2016 (que geraram este filme) parecerem um velhinho desiludido, raquítico de imaginação e retrógrado, perto do antigo, longínquo, vigoroso e gente-boa ano de 1984 para o cinema.
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