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Críticas

Dois Caras Legais

Os 1970s, para rir sem culpa.

Por Luiz Joaquim | 20.07.2016 (quarta-feira)

Você não vai querer perder a abertura de Dois caras legais (dêem um desconto no titulo do filme, cuja tradução é bem próxima a ideia do original, The Nice Guys, EUA, 2016). O filme chega amanhã (21) ao Brasil e é dirigido por Shane Black (de O homem de ferrro 3).

Nela, na abertura, ainda estampando os créditos de apresentação, temos uma tomada aérea panorâmica de Los Angeles e, ao som de um groove, somos informados que estamos em 1977.

A tomada noturna sobrevoa a cidade até chegar ao jardim de uma casa e encontrar um adolescente perambulando por ali. Segue-o até aquele que parece ser o quarto de seu irmão mais velho, onde o moleque pega embaixo da cama uma revista Playboy.

Enquanto o garoto admira com um sorriso no canto da boca a playmate do mês, uma imagem ao fundo informa que algo terrível está em processo. O inesperado que vem em seguida já dá a dimensão do que aguardar desse filme deliciosamente irresponsável feito por Black.

Os dois cara legais do titulo são os detetives Healy (Russel Crowe) e March (Ryan Gosling), que não se conheciam e, um tanto a contragosto, decidem trabalhar juntos pelo dinheiro, para encontrar a jovem atriz pornô Amélia (Margaret Qualley) que teria sido vista pela tia dela mesmo após sua morte ter sido confirmada num acidente.

O que seria uma investigação sobre algo simples revela-se, num ritmo muito particular, em algo grande, que envolve a mais importante indústria norte-americana.

 

Mas o que há de mais inteligente e atraente nesse roteiro de Blake com Anthony Bagarozzi não está no enredo, mas em como ele é conduzido e em seus personagens tão bem corporificados por Crowe e Gosling. Além, claro, das brincadeiras com a marca do tempo, que fazem coisas de 40 anos atrás parecerem comicamente absurdas hoje.

Entre algumas das piadas com aquilo que seria uma das preocupações da sociedade na época – ou ao menos para o atrapalhado e fraco pra bebida March – era um possível ataque de abelhas assassinas do Brasil. Tiradas como o “absurdo” do preço da gasolina (na casa dos centavos), ou do custo alto para um táxi (na verdade, uma bagatela aos dias de hoje), dão um condimento saboroso e até saudosista para Dois caras legais.

O tamanho das situações hoje politicamente incorretas, e que ali são mostradas despudoradamente como corriqueiras e normais, também garantem ao espectador liberdade para uma alegria quase irresponsável.

Aos 13 anos, Holly (Angourie Rice), filha de March, é praticamente a sua motorista. Já numa festa regada a drogas e com dançarinas nuas bailando ao som de Jive talkin, do Bee Gees, a mesma menina assiste a um filme pornô com a atriz desse filme, para logo depois ser-lhe oferecida um cigarro. A menina ainda testemunha um assassinato.

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Noutra situação, enquanto Healy e March investigam a casa de um suspeito, um garoto chega de bicicleta e lhes conta que conhecia o dono da casa e até se ofereceu para participar de um filme pornô porque tem um pênis grande. “Querem ver meu pênis?”, indaga o garoto para os detetives.

E não duvidem se Dois caras legais tornar-se um clássico. O filme guarda desde já cenas antológicas, como a que March, bêbado, esbarra num defunto numa floresta e, enquanto tenta chamar Healy pra ajudá-lo, a voz não sai. A simples situação cômica na verdade ganha ares de grandeza pela atuação de Gosling, que revela-se um talento para o timing do humor.

O roteiro, também esperto e ágil, vai exigir a atenção total do espectador e ainda brincar com seu público ao incluir a situação absurda de um sonho que é trazido para dentro de uma futura situação de perigo real do enredo.

Há ainda, amarrado a isso tudo, um belo discurso de carinho de Dois caras legais pela força e importância que a instituição `cinema` pode promover, incluindo o cinema pornô – ou ‘experimental’ como dizem os produtores do filme dentro do filme.

A opção para os cinemas nesta semana é simples: abrir a mente a ir rir sem culpa com Dois caras legais.

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