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Críticas

Jason Bourne

A ‘Dory’ versão ‘espião da CIA’ está de volta. E está cansado.

Por Luiz Joaquim | 27.07.2016 (quarta-feira)

Quer exemplo de um roteiro interessante mal dirigido? Amanhã (28/07) entra um em cartaz. O nome é Jason Bourne (EUA, 2016), do britânico Paul Greengrass.

Sempre lembrado pela costumeira acertada dosagem em criar enredos políticos com ação na medida inteligente do entretenimento – vejam Domingo sangrento (2002), Voo united 93 (2006) – Greengrass também ficou marcado como ser o responsável por dar ainda mais estofo às sequência da franquia ‘Bourne’, iniciada em 2002 com A identidade Bourne, sob direção de Doug Liman (a partir do livro de Robert Ludlum).

Com Greengrass na direção de A supremacia Bourne (2004) e O ultimato Bourne (2007) – tendo sido todos fotografados por Oliver Wood –, as aventuras do desmemoriado ex-agente do título ganharam uma consistência humana interessante, dando a Matt Damon a definitiva cara do eterno fugitivo da CIA.

Neste novo Jason Bourne, Greengrass também co-assina o roteiro do filme (ao lado de editor de imagens Christopher Rouse, aqui estreando como roteirista). E o resultado é satisfatório, não deixando a nova história nada a desejar sobre a complexidade do drama de identidade que o protagonista vive enquanto segue numa fuga constante dos agentes norte-americanos que querem, mais uma vez, lhe eliminar.

 

O problema aqui está mesmo é em como, cinematograficamente, a trama nos é apresentada. Desde que se uniu ao fotógrafo Barry Ackroyd – que assina Jason Bourne e as duas obras anteriores de Greengrass (Zona verde, 2010; e Capitão Phillips, 2013), o resultado de seus projetos é altamente questionável na narrativa visual.

A primeira sequência de ação em Jason Bourne, por exemplo, acontece na Grécia e define esteticamente todo o filme que está por vir. Com a câmera num enjoado e constante movimento, e numa sequência epiléptica de edição, com planos que mal duram 1 segundo, o espectador é, podemos dizer, privado de realmente enxergar a ação.

É como se o personagem Bourne, ao tentar esmurrar o adversário, ele acertasse a câmera de Ackroyd. Aliás, se assim fosse, poderia até ser interessante. Mas a alegoria aqui da perspectiva da câmera esmurrada é apenas para ilustrar a completa desorientação visual do espectador.

No clímax da ação final do filme, dá para desconfiar que acontece em Las Vegas uma perseguição de carro das mais incríveis – protagonizada por um carro blindado da Swat. Mas é só uma desconfiança mesmo porque ainda que os olhos sigam as imagens desta edição saturada de aceleração, a mente não acompanha o tamanho dos estragos até que os dois carros finalmente parem no último obstáculo.

Sobre a nova historinha que perturba nosso herói – que hoje pode virar piada como a peixinha Dory dos filmes de espionagem -, Bourne está vivendo escondido na fronteira da Grécia com a Macedônia.

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Para ganhar a vida, submete-se a lutas clandestinas de entretenimento. Até que a agente Nicky (Julia Stiles), vem ao seu encontro contar-lhe sobre um novo projeto da CIA. Seguida virtualmente por Heather (Alicia Vikander, de A garota dinamarquesa), uma agente da CIA, Nicky faz com que o esconderijo de Bourne seja descoberto.

Dewey (Tommy Lee Jones), o diretor da Agência Central de Inteligência norte-americana, coloca então no encalço de Bourne o impiedoso agente Asset (Vincent Cassel, como mais um vilão convincente), pois nosso herói não pode revelar ao mundo o assedio da CIA contra Kallor (Riz Ahmed). Este é uma espécie de Mark Zuckerberg que quer manter o sigilo dos usuários do novo sistema operacional que criou.

Daí adiante, o jogo de gato caça rato segue até o final, pulando de país a país, (Grécia-Inglaterra-Alemanha-EUA), com um pitada de conflito de memória de Bourne, envolvendo as poucas lembranças que tem do pai para justificar uma vingança.

Damon aqui parece cansado do personagem, e não rende (ou não faz esforço) na hora de interpretar a única meia-dúzia de falas que tem para expressar nos 123 minutos de correria incessante do filme.

Já Tommy Lee Jones transpira talento, ainda que defendendo um personagem monocromático como Dewey. Num diálogo tenso, Lee Jones faz um movimento inesperado com os olhos e o deixa ainda mais tenso. É disso que é feito grande atores.

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