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Críticas

Mãe só há uma

Leias as primeiras impressões do crítico André Dib após ver o lançamento do filme no Festival de Berlim.

Por André Dib | 16.07.2016 (sábado)

Para quem já conhece o trabalho de Anna Muylaert, é impossível assistir Mãe só há uma (2016) sem retornar a Que horas ela volta?. Neles a diretora paulista adota abordagens diferentes para criticar o mesmo universo: o da classe média tradicional brasileira.

Agora é possível sentir a urgência de ampliar a denúncia da família conservadora como dispositivo idiotizante e aprisionador, colocada anteriormente com uma precisão formal dispensada por Anna em sua nova obra, que traduz a irreverência e liberdade sexual da juventude em movimentos de câmera instáveis, imprevisíveis, conferindo ao filme leveza e vivacidade que jamais seriam alcançados pelos planos fixos, penumbras e tons pastel da produção anterior.

A mudança estética remete a uma interessante inversão de pontos de vista. Se Jéssica é o elemento estranho a invadir e desestabilizar o campo sóbrio e minado da burguesia paulistana, em Mãe só há uma, uma família parecida invade o mundo liberto de Pierre (Naomi Nero), jovem transgênero e suburbano, que vive a plenitude dos 17 anos na base do sexo, drogas e rock’n’roll.

Um dia ele descobre que seu nome não é Pierre: recém-nascido, foi roubado na maternidade. Reintegrado aos pais biológicos (Matheus Nachtergaele e Dani Nefusi), o garoto se recusa a entrar na gaiola oferecida pelos pais. Questiona o jogo da família tradicional e desafia visceralmente limites de convivência,  permitindo ao filme bons momentos, tanto de humor quanto de tensão dramática.

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Nas cinco sessões promovidas pela Berlinale, Mãe só há uma recebe votos do público, que em 2015 elegeu Que horas ela volta? como o melhor da Mostra Panorama. Além disso, ele concorre ao Teddy Awards, dedicado a filmes de temática gay, independente da mostra. Não será surpresa se ganhar (**).

* Visto no Colloseum Kino, Prenzlauerberg, em 17/02/2016. Texto escrito em 18/02/2016 (quinta-feira)

(**) Nota do editor: Mãe só há uma saiu-se de fato vencedor  do Teddy Awards na edição 2016 do Festival de Berlim

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