Equipe “Aquarius”
Equipe dá no Recife a primeira entrevista coletiva no Brasil sobre a badalada produção pernambucana.
Por Luiz Joaquim | 20.08.2016 (sábado)
Nunca – ao menos nos últimos 20 anos – uma entrevista coletiva de cinema havia sido tão concorrida no Recife. O encontro aconteceu às 15h de ontem (19/08) no hotel Transamérica, na Av. Boa Viagem, localizado um pouquinho depois do edifício Oceania, que serviu de principal locação para o filme Aquarius, de Kleber Mendonça Filho; obra que hoje (20/08) ganha a primeira exibição pública no Brasil. A sessão será às 19h30 no cinema São Luiz.
Não bastasse toda a curiosidade da imprensa (ou cinefilia) local em ouvir seu diretor e equipe – após a produção ter angariado tantos elogios e prêmios na mídia especializada estrangeira -, a reunião trazia ainda a presença da estrela Sônia Braga que, para quem já viu o filme, entende que ela aqui resplandece na tela como há algum tempo não brilhava.
A propósito disto, numa das falas mais marcantes de Sônia na entrevista, ela conta que Aquarius a resgatou como uma atriz para o Brasil. “Não que estivesse ausente daqui. O Brasil, para mim como uma cidadã, nunca me foi estranho. Quando você não está no cinema ou na tevê, parece que você não existe. Certa vez, com minha irmã em Niterói, uma jovem me disse: ‘Seu rosto me é familiar…. você não já trabalhou no shopping?’ [risos]. Aí eu respondi: ‘Olha, ainda não’. [risos]. O sucesso só vem se as pessoas confiam em você. Foi essa a relação [de confiança] que aconteceu em Aquarius. Meu sonho é que esse filme consiga restabelecer essa confiança com o País”.
Aqui um parêntese: pelo aspecto do ‘resgate’ de um grande nome do cinema aos holofotes da mídia pelo seu talento natural, Kleber pode ser lembrado pelo mesmo movimento feito há 22 anos por Quentin Tarantino (diretor que o cineasta brasileiro publicamente admira) com Pulp fiction: tempo de violência. Naquele 1994, Tarantino reapresentou ao mundo John Travolta. E, coincidência ou não, Pulp fiction foi o terceiro longa do norte-americano, assim como o é Aquarius para Kleber, e ambos títulos passaram pela principal competição de Cannes.
Sobre futuros projetos no Brasil, Sônia Braga contou ontem que já surgiram convites para novos trabalhos, mas ainda não oficializados, daí não poder divulgá-los agora; comentou apenas rapidamente sobre sua participação em Going places, projeto do John Turturro, que retoma o personagem Jesus, de O grande Lebowski (1998), quando Sônia viverá a mãe deste personagem. “Será uma participação rápida, com gravação de apenas um dia”, disse.
Kleber Mendonça iniciou a conversa lembrando as relações que já fizeram do filme com o momento político do Brasil – uma vez que Clara (personagem de Sõnia) é uma sexagenária, que venceu um câncer e defende um ponto de vista e como isso, em conseqüência, se choca com o poder.
“Me perguntam se foi inspirado em Dilma [Rousseff]. Eu digo que isso é impossível. Eu teria de ter um poder mediúnico para saber o que estaria acontecendo hoje no País quando escrevi o roteiro há 4 anos e rodamos o filme aqui do lado há ano”.
Maeve Jinkings, que interpreta Ana Paula, filha de Clara em Aquarius brincou dizendo que Kleber talvez tenha mesmo poder mediúnico e nem saiba. “Quando li o roteiro, a minha mãe vinha à cabeça. Ela viveu num prédio chamado Aquarius e lutou muito por ele, numa situação semelhante a de Clara no filme, o que me deixa muito orgulhosa dela, pois é muito fácil deixar-se levar pelo fluxo predominante”, revelou.
Sobre trabalhar com Kleber, Maeve conta que é “estranhamento fácil e próximo acessar os personagens. É como se eles estivessem já lá em mim. Quando fiz O som ao redor, estava há apenas um ano no Recife e algumas coisas me surgiram de forma muito curiosa naquela história. Desta vez, o impacto foi outro”.
Estiveram presentes também na entrevista coletiva Paula de Renor (a Fátima, no filme), Pedro Queiroz (Tomás), Julia Bernat (Júlia) e Zoraide Coleto (Ladjane), como parte do elenco; além de Juliano Dornelles (direção de arte) e a produtora Emilie Lesclaux.
O filme entra em cartaz no Brasil dia 1º de setembro, e já foi comprado para exibição comercial em mais de 50 países, incluindo a cartela da Netflix. Nos Estados Unidos, o filme ganha exibições dia 9 e 11 de outubro, dentro do 54º New York Film Festival.
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