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Festivais

10º CineBH (2016) – abertura

Leia entrevista com Pedro Butcher, curador da mostra junto a Francis Vogner

Por Luiz Joaquim | 19.10.2016 (quarta-feira)

Não é por ser uma data redonda, mas dez anos de um evento é sempre interessante de ser celebrado. Mas só no caso, claro, de uma evolução dentro desse período. O Cine-BH: Festival Internacional de Cinema de Belo Horizonte dá partida amanhã (20/10) á sua 10ª edição quando, durante oito dias de programação, projeta 57 produções, entre trabalhos internacionais e nacionais (35 longas e 21 curtas), espalhadas em cinco espaços da capital mineira.

Quem abre o CineBH, às 20h de amanhã no Teatro Sesiminas, é Elon não acredita na morte, do mineiro Ricardo Alves Jr. (filme pelo qual Rômulo Braga foi eleito melhor ator no 49º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro).

Nesta edição, a temática central  – ‘O plano contra a imagem: cinema da resistência’ – foi desenvolvida pelos curadores Francis Vogner e Pedro Butcher. E traz neste 2016 o crítico italiano Adriano Aprà para ministrar três masterclass antecedidas pela exibição de três filmes históricos dos cineastas Carl T. Dreyer, Kenji Mizoguchi e Michelangelo Antonioni.

Mas há sete anos a menina dos olhos do CineBH é o ‘Brasil CineMundi’, evento dedicado ao mercado, gerando encontros por meio de debates, seminários, workshops que abram espaço para parcerias internacionais. Nesta edição, desembarcam em BH convidados da Alemanha, Argentina, Canadá, Chile, Colômbia, Cuba, França, Itália, México, Portugal, Suíça, Uruguai.

Na entrevista abaixo, conversamos com o crítico e pesquisador Pedro Butcher, um dos curadores do CineBH, sobre algumas peculiaridades do evento.

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Na foto de Jakson Romanelli, registrada em Tiradentes-MG (janeiro) Pedro Butcher aparece à direita

Entrevista: PEDRO BUTCHER

Qual a estrutura da equipe curatorial da Mostra BH e em que momento do ano vocês iniciam esse específico trabalho?
Eu e o Francis [Vogner] dividimos a seleção de longas-metragens estrangeiros e brasileiros. E o Francis trabalha sozinho com os curtas-metragens. Há cinco anos atuei pela primeira vez na curadoria do CineBH. Precisei me ausentar por um ano e retornei há três anos. Nós começamos a pensar na curadoria em junho, mas mesmo antes já trabalhamos na coordenação e seleção de projetos para o Brasil CineMundi [programa dentro do CineBH voltado para o mercado nacional e internacional, incluindo convidados estrangeiros]. Mas para a programação de filmes da mostra, mergulhamos mesmo em agosto e setembro.

Qual foi o critério norteador para a seleção dos filmes escolhidos desta edição?
A gente prioriza, de certa forma, um viés histórico. Não nos concentramos apenas na produção contemporânea. Outra coisa que fazemos é convidar algum crítico que a gente admira para sessões especiais e comentadas. Em 2014, por um esforço meu, muito pessoal, trouxemos o Tag Gallagher, e neste ano virá o [italiano] Adriano Aprà. A primeira coisa que fechamos este ano foi sua vinda. Sobre o perfil da programação, percebemos que havia uma recorrência de filmes de Portugal. Pensamos na singularidade daquela produção contemporânea, da importância de sua cinemateca para os realizadores portugueses. Enfim, como o cinema português serviu de âncora para nossas discussões. A situação naquele país é muito particular. Lá os blockbusters, como os filmes da Marvel, por exemplo, não fazem nem um milhão de espectadores. Ok, é um país pequeno, mas lá filmes assim não tem a dimensão que tem em outros lugares. Talvez o efeito das novelas da [tevê] Globo, ainda que de forma restrita, seja mais interessante de se observar.

Na medida em que passam os anos, o que fica mais fácil e o que fica mais difícil na produção do CineBH?

Não fica mais fácil. Fica mais difícil. É impressionante. Tudo bem que a gente ganha experiência, mas não é nada fácil negociar ou ir atrás dos filmes. Há hoje o que chamamos de ‘mercado de festivais’, e a gente tem uma postura crítica sobre isso. Ao mesmo tempo, não há como fugir. O que conseguimos evitar são as exigências de filmes recentes, ou inéditos, mas não deixamos de exibi-los também. Problema é que alguns filmes bacanas firmam acordo de exclusividade de exibição com algum outro festival no Brasil.

A circunstância do choque de agenda com a Mostra de SP é discutida com a direção da CineBH?
É infinitamente discutido. Mas eles têm uma argumentação forte, que está atrelada às negociações de patrocínio. E a Universo [Produção, responsável pelo CineBH] tem outras ocupações com outra agenda. Meu sonho seria conseguir transferir a mostra para o primeiro semestre, que é menos atribulado.

Já dá pra dizer que a CineBH criou um público habitué, fiel? E saberia dizer se este público vem crescendo ao longo dos anos?
A gente vem se esforçando pra criar uma identidade mais marcante para a mostra. Mas o CineBH já abriga um evento que é muito forte, que é o Brasil CineMundi [em sua 7ª edição neste 2016]. É um encontro voltado para a produção que reúne muita gente interessante e importante.

Dá para comensurar o benefício cultural que o evento promove para a cidade de BH?
Belo Horizonte tem uma movimentação cultural muito bacana. E tem outros festivais [de cinema] importantes. O ForumDoc. é um deles, com uma curadoria interessante. Hoje em dia não faltam filmes e acho que quanto mais possibilidade de proporcionar novas discussões, melhor. E do ponto de vista do diálogo que o Brasil CineMundi estimula com a cidade, isso é algo muito bom. Produtores acabam por conhecer a cidade e se inteirar da cena mineira; e das produtoras locais. Há uma vida cultural em BH forte, vide espaços como o Cine Humberto Mauro e o CentoeQuatro.

Qual foi o grande prazer no trabalho desta edição?

Acho que a vinda do Adriano Aprà é algo muito bom. Esses encontros são ótimos. Ele vai promover masterclass [dias 21, 22 e 24 /10] dos filmes Gertrud (de Carl Dreyer, 1964); Crisântemos Tardios (de Kenji Mizoguchi,  1939); e O Eclipse (de Michelangelo Antonioni, 1962). Há também alguns filmes da ‘Mostra Contemporânea’ que são uns achados. Um deles foi um achado do Francis. Chama Fields Niggas [de Khallik Allah, veja trailer abaixo]. É um documentário norte-americano com população de rua… nem é bem isso. São pessoas que vagam pela noite. É um grande retrato da comunidade negra. Esse filme é uma bela descoberta.

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