40. Mostra SP (2016) – Entrev.: Marco Bellocchio
O maestro italiano conta em entrevista um pouco sobre sua relação com o cinema.
Por Luiz Joaquim | 27.10.2016 (quinta-feira)
SÃO PAULO (SP) – Um dia após sua masterclass (ou ‘aula magna’) oferecida ao público desta 40a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, um dos mais importantes cineastas vivo da Itália, Marco Bellocchio, concedeu uma entrevista coletiva à imprensa.
Dono de uma cinematografia marcante que perpassou as últimas cinco décadas, o diretor vem marcando sua trajetória tendo um foco temático sempre muito interessado na família (como no seu recente Belos sonhos, 2106) na igreja (vide Sangue do meu sangue, 2015) e na política (Bom dia, noite, 2003, e Vencer, 2009, só para citar dois).
Nesse sentido, a entrevista girou bastante em função deste tópicos e em como Bellocchio os adéqua para contar suas histórias. Acompanhe os tópicos levantados no encontro:
Critica x público
Meus filmes são recebidos de forma diferentes. Meu primeiro longa-metragem foi recebido muito bem no mundo e ao voltar à Itália tornou-se um sucesso até maior do que eu esperava. Curioso que meus filmes sempre são vistos por uma ótica política, mas sem ser político. Quando iniciei, havia sim no mundo uma fé utópica de esquerda de que o cinema poderia alterar a realidade ao se contrapor à burguesia. Mas meu cinema era mais introspectivo. No Brasil, O diabo no corpo (1986) fez muito sucesso, mas na Itália fui criticado quando trabalhei com a psicanálise coletiva.
Minhas obras são muito pessoais, que dão sentido a momentos históricos, mas sem se preocupar em explicar a história. Vencer é sobre uma mulher, não sobre o fascismo. Mas sobre uma perspectiva daquela história sobre um ângulo daquela mulher que sai do manicômio. Já o terrorismo no Bom dia, noite está interessado no cotidiano dos algozes.
O sentido do cinema hoje
Nos 1960 e 1970 tudo era político. Havia extremismos. O cinema também era um arma. Mas meu modo de fazer filmes nunca era programático. Dentro do que vivíamos, tinha idéias pra aplicar dentro do meu endereço político cinematográfico. Eu sempre precisava primeiro sentir meus instintos. Eles me revelavam um empenho moral. Até moralista, às vezes, que eu precisava combater pois me levava à lugares que não gosto.
O catolicismos em seus filmes
Um artista fala do que conhece. Tive formação católica. E daí emergiram histórias que, digamos, apareceram com raiva e desilusão de maneira forte para mim. Vi na prática religiosa falsidades. E isso me criou motes como a degeneração de um personagem. Tal assunto, pela educação com a Igreja, sempre me retorna à cabeça por imagens, o que é natural. Quero dizer que sua formação te influencia. A luta pela fé fica em você.
O cinema brasileiro atual
Não tenho conhecimento do cinema brasileiro contemporâneo para falar dele. Minha experiência mais próxima com o cinema brasileiro foi há 50 anos atrás. Com o grande movimento [Cinema Novo], que se impunha num momento em que havia a Nouvelle Vague [francesa] e o Free cinema [britânico] entre outros. Foi uma bela estação, aquela. Conheci realizadores que ficaram na Itália e a arte brasileira de então ganhou o mundo. Era [um cinema] estimulante, belo. Muito original nas imagens e na edição.
A trilha sonora em seus filmes
Descubro as musicas no momento em que escrevo as histórias. Há cenas em que as musicas são obrigatórias. Há discursos na música que não são usados apenas como um acompanhamento, mas funcionam como uma segunda imagem. Em Vencer havia uma música muito orquestrada. A experiência me inspirou a ter a música antes da montagem. No passado, só após a montagem a gente convidava o compositor para trabalhar na trilha sonora.
– Viagem a convite da Mostra.
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